1 de mai. de 2008

Sobre heroísmos desnecessários - ou Como complicar jogos fáceis, com a dupla Fla x Flu.

As batalhas épicas da Libertadores são históricas. Jogos pegados, disputados até o último minuto, à base de suor, sangue e lágrimas. Partidas que entram para a história por transformarem meros mortais em heróis, em deuses, em mitos que perduram até os dias de hoje. Batalhas de titãs: equipes brasileiras sofrendo em estádios nos países sul-americanos, contra Peñarol, River Plate, Cobreloa. Hoje, Flamengo e Fluminense protagonizaram partidas que com certeza não entrarão para esse hall de confrontos históricos.

Contra adversários ridiculamente fracos, os cariocas fizeram de tudo pra complicar jogos que deveriam ser fáceis e sem sustos. América-MEX e Nacional-COL, outrora grandes, contam, atualmente, com times vergonhosos. Defesas fracas, jogadores pouco criativos na meia-cancha, e atletas acima do peso (Cabañas pelo time mexicano, e o ex-palmeirense Muñoz pela equipe colombiana) caracterizaram tanto o adversário do rubro-negro quanto o do tricolor. Mesmo assim, o Fla teve um jogo de emoções à flor da pele, e o Flu apresentou atuação apática, chegando a tomar sufoco mesmo com um a mais em campo.

Como nosso grande blogueiro Flip analisou em seu post, o Flamengo perdeu várias oportunidades, podendo ter matado o jogo com muito mais rapidez e tranqüilidade. Essa é a primeira lição para dramatizar partidas simples: jogue fora todas as chances que lhe aparecerem, lembrando sempre do lema: “quem não faz leva”. Assim, você fica livre para buscar a vitória heróica nos últimos minutos de jogo.

Valeu a boa campanha do time na fase de grupos: a fraqueza do adversário tornou esses erros do Flamengo insignificantes: a ampla superioridade rubro-negra prevaleceu mesmo assim, num final bastante emocionante. O time saiu bem na foto, no fim das contas: o Fla conseguiu uma boa vitória e garantiu tranqüilidade no jogo de volta, com um heroísmo desnecessário e de contornos épicos, o que acaba por deixá-lo com boa imagem frente à torcida e à imprensa.

O Fluminense me parece ter sido ainda mais incompetente que o Clube de Regatas. Seu adversário era tão ruim quanto o América-MEX, e o tricolor ainda foi beneficiado por um pênalti, na minha opinião, inexistente. Depois de linda arrancada, Júnior César entrou na área e adiantou demais a bola. O goleiro saiu de maneira imprudente; entretanto, ele não toca o lateral tricolor, que me parece saltar e cavar o pênalti. Mas, como o juiz interpretou que a penalidade existiu, ele procedeu corretamente ao expulsar o jovem goleiro Ospina. Thiago Neves converteu o pênalti a favor do tricolor (será que o Washington chegou a pedir pra bater, hein?), revertendo a situação do jogo. Antes apático e jogando mal, agora o Flu estava na frente e com um homem a mais.

Entretanto, nem isso fez o tricolor melhorar sua atuação: os jogadores continuaram sem vontade, dando toquinhos de lado, com medo de avançar mais incisivamente e tentar definir o jogo. Segunda regra básica para complicar jogos fáceis: quando o adversário for infinitamente inferior a você, não parta pra cima. Deixe-o vir, faça-o parecer mais forte do que realmente é, simule “economia de esforços” e “inteligência em administrar resultados”. Isso tornará difícil a vitória fácil, e, portanto, ela será mais valorosa... (?)

Na volta para o segundo tempo, talvez Renato já pudesse lançar Dodô, pra tentar vencer logo a partida e garantir a classificação. Mas o Flu voltou com a mesma escalação e a mesma apatia. O Nacional chegou com um pouco mais de vontade e conseguiu diminuir o placar logo no comecinho: numa cobrança de escanteio, Wash cortou mal; a bola foi parar nos pés de Arrué, que não perdoou e mandou no ângulo.

Thiago Silva, o melhor zagueiro do Brasil, deixou o campo pouco depois, com um estiramento na coxa. Foi substituído pelo experiente Roger, que não comprometeu. A alteração seguinte de Renato foi uma das mais geniais lições de como entregar o ouro ao bandido.

Seu time tem plenas possibilidades de vencer a partida, mesmo depois de sofrer o gol de empate? Diminua um pouco essas chances tirando um dos maiores craques do time (Thiago Neves – que não jogava bem, admito: mas estava tão mal quanto o resto do time, e o camisa 10 tricolor é inegavelmente um jogador que, mesmo estando mal, pode decidir a partida em um lance) e coloque um volante(?)/meia(?) inoperante, que não marque bem, nem passe bem, nem tenha habilidade. Que só corra e perca a bola (no caso do jogo, esse papel coube ao esforçado, mas nulo, Maurício).

E tome apatia, e tome incompetência. A sorte é que o Flu não tinha só um craque capaz de decidir o jogo: Conca, num chute de longe, vence o goleiro Barahona, que pula atrasado e deixa passar uma bola pouco perigosa. Agora é hora de o time engrenar e fazer um placar mais elástico pra garantir de vez a classificação, não é?

E aí vem Dodô! O atacante dos gols bonitos pode voltar de maneira triunfal, e quem sabe até fazer o Washington (em péssima fase) voltar a jogar bem, já que foi ao lado de um atacante de ofício que o Coração Valente, Guerreiro Tricolor teve suas melhores atuações.

Mas o Renato é mesmo um mestre do “ah, não, vai ficar fácil demais, vamo dificultar essa parada”. E em vez de tirar o desaparecido Cícero, saca justamente o Conca, que acabara de fazer o gol! O Flu finalmente volta a ter dois atacantes – mas, em compensação, não tem mais nenhum armador em campo. Sem ligação entre o meio e o ataque, o tricolor toma sufoco no final da partida: Libertadores tem que ser suada, né.
Afinal, o senso comum diz que nada vem (nada pode vir) facilmente. Não há mérito em vitórias fáceis, não há mérito no que não exige de nós esforços sobre-humanos. Toda vitória há de ser sofrimento profundo, batalha épica, Grêmio e Peñarol – Renato Gaúcho que o diga.

Vai ver é inconscientemente que transformamos os problemas mais simples em grandes dilemas definidores das nossas vidas. Não admitimos que os dragões sejam apenas moinhos de vento. Até os pequenos percalços do dia-a-dia se tornam jornadas épicas através da Terra-Média para salvar a raça humana. Isso pode até ser bom enquanto vencermos essas pequenas batalhas: vamos nos sentir como se tivéssemos acabado de derrotar o Boca em pleno La Bombonera, no último minuto, tomando porrada dos jogadores e sendo atingidos por objetos vindos da torcida. Cada pequena vitória, um título mundial.

O problema vai ser quando, de tanto sabotarmos nossas próprias “vitórias fáceis”, acabarmos perdendo. Difícil avaliar o tamanho da queda...


Admitamos logo: nem todo jogo de Libertadores é Peñarol e Grêmio. Pode ser um Fluminense e Nacional-COL completamente sem graça, apático, em mais um daqueles pequenos percalços do cotidiano, mais uma pequena batalha da vida diária, felizmente vencida.

12 comentários:

Rodrigo Paradella disse...

Sensacional!

Mas pra não passar batida a minha opinião, tenho que falar. Essa Libertadores tem pouquíssimos times de alto nível, tão poucos que Flamengo e Fluminense passearam hoje, mesmo sem jogar bem. E o pior, esses passeios foram fora de casa, o que demonstra a disparidade técnica entre os times. Impressionante!

Vou repetir o chute, pra mim a Libertadores fica entre:

Boca, River, SP ou Cruzeiro.

James M. Barrie disse...

Pelo menos um desses times já cai fora agora. Mesmo com o gol fora de casa, ainda acho que o Cruzeiro não se classifica contra o Boca.

Quanto a São Paulo e River... o tricolor paulista não saiu do 0x0 lá. Empate sem gols fora de casa não é bom resultado na Liberta: o time do Muriçoca tá a perigo.

E o River perdeu pro San Lorenzo: clássico é clássico, e acho que o time do Simeone tem bastante possibilidade de perder.

Acho que os cariocas vêm bem e têm chances boas de chegar ao título. Diria até que, no momento, as chances são maiores que as de São Paulo e Cruzeiro, talvez até maiores que as do River.

Acho que o grande adversário de todo mundo continua sendo o Boca, que apesar de não ser isso tudo, é o Boca.

Rodrigo Paradella disse...

Cruzeiro e Boca se matam realmente, mas SP e River são times que eu ainda acredito muito pra essa Libertadores.

O time do SP não é lá essas coisas, mas não pra não chamar de favorito um time que em 3 anos ganhou 2 brasileiros e um mundial. Tem que respeitar.

Já o River me impressionou positivamente, gostei muito do ataque com Falcão, "El Loco" Abreu e a revelação Buenanote. O time tem bom toque de bola e ainda tem o veterano Ortega, que mesmo com seus problemas ainda é um bom camisa 10. Quanto a derrota pro San Lorenzo, vejo uma derrota normal. Aliás, o San Lorenzo ganhou do Boca essa semana, é time perigoso e no ano do centenário, se derem mole eles vêm com tudo mesmo.

James M. Barrie disse...

O São Paulo continua a não me convencer.
Não me convence desde o ano passado, aliás.
Ficou pelo caminho no Paulistão e acredito que vá ficar pelo caminho na Libertadores.
Tenho fé no Flu; se o São Paulo porventura passar pelo Nacional, vai encontrar um time forte (apesar de mal armado) pela frente.
Tô confiante que o retorno de Dodô dará um upgrade no time.

Quanto ao River, não nego que seja um bom time; gosto muito do Falcão Garcia (cogitado pelo Flu). Mas acho que o San Lorenzo pode ealmente surpreender.

Rodrigo Paradella disse...

São Paulo não me convenceu o ano passado todo e foi campeão brasileiro.

Tem que respeitar ahaha.

Felipe Schmidt disse...

Realmente, é irritante essa mania de ficar tocando a bola, contra um adversário totalmente entregue. Pelo lado do Fla, eu até entendo um "vamos nos poupar para a final". Mas tudo que é excessivo, é ruim. Tinha horas do jogo em que a defesa do América estava completamente aberta, e os caras tocavam a bola. Inacreditável.

Eu não vi muito o jogo do Flu, em posso comentar.

Agora, quanto os favoritos, essa do Bony falar q os cariocas pegaram times ridículos, isso é mérito deles: fizeram a melhor campanha da 1ª fase. Faz parte do caminho.

Gabriel, vc poderia ter incluído o Boca neste texto. A quantidade de gols perdidos contra o Cruzeiro também foi inacreditável. Para piorar, ainda tomaram um gol no final, que pode complicar para o segundo jogo. Para o Cruzeiro, foi vitória este resultado.

Ainda acho que o São Paulo pode ficar contra o Nacional. Tá certo que eles nunca convenceram ninguém, mesmo ganhando, mas este ano eles não convencem, nem ganham.

E eu to preocupado é com o San Lorenzo. Tem um bom time e, caso elimine o River, vai ganhar confiança.

Mas não excluo os cariocas não. Só precisam parar com esses vacilos que o Gabriel citou.

James M. Barrie disse...

Só um rápido comentário sobre o jogo do Boca:

o jogador argentino estava claramente impedido no segundo gol.

Felipe Schmidt disse...

Não achei não cara.

Se estava, foi por muito pouco. De qualquer forma, Palácio e Palermo perderam toneladas de gols.

E o técnico do Cruzeiro quase fudeu o time, escalando a equipe sem lateral esquerdo...

Anônimo disse...

Podemos perceber que Tanto fluminense quanto flamengo vivem de ilusão dentro da libertadores e tanto os clubes quanto os torcedores parecem não levar em consideração o trajeto de seus times até o presente momento dentro da competição na hora de festejarem a campanha que estes times desempenham.

A libertadores entrando na sua edicão de número 49 teve a Argentina com 21 títulos, Brasil com 13 títulos, Uruguai com 8 títulos, Paraguai com 3 títulos, colômbia com 2 títulos e chile com apenas 1 título. Sendo assim vemos que a a compeição só existe e só é para valer quando os argentinos e brasileiros se enfrentam e até mesmo quando os uruguaios entram na parada, mas fora isso o resto só pode ser considerado zebra, e das brabas. Como os próprios números comprovam em apenas seis ocasiões o título não ficou nas mãos de argentinos, brasileiros e uruguaios e mesmo ocorrendo em 6 oportunidades o fenômeno se restringe a somente 4 clubes, pois o olimpia do paraguai é tricampeão.

O fluminense, clube sem a menor tradição em competições internacionais e até mesmo nacionais, foi sorteado em um grupo que a mídia alardeou como sendo o grupo da morte. Grupo da morte? Como pode receber tal alcunha um grupo com 4 partcipantes que sequer consiguiram chegar a uma final de libertadores em suas histórias? Um time do paraguai sem torcida, sem tradição e sem títulos, Um clube do equador que só pelo seu país de origem dispensa qualquer comemntário no âmbito futebolístico, o fluminense que nunca havia passado para a segunda fase da competicão e o arsenal da argentina que mesmo sendo um clube de médio para pequeno em seu país com certeza era o maior do grupo em que estava, afinal pelo menos possui um título internacional, mesmo que este seja uma sulamericana e não uma libertadores.
Passando desse grupo o fluminense enfrenta um time colombiano, ou seja, de um país que conquistou menos de 5% do total títulos disputados, porém pelo menos é um time que já foi campeão da competição, por isso é bom o tricolor tomar cuidado e levar esse fato em consideração no jogo de volta, afinal jogará no maraca que é campo neutro.

Já o flamengo se ilude ainda mais do que o fluminense. Primeiramente pelo fato de já ter sido campeão e por isso achar que tem tradição na competição, porém no ano em que este time foi campeão, no jogo desempate contra o atlético mineiro foi vergonhosamente beneficiado pela arbitragem do wright, e ganhou um refresco dos argentinos e uruguaios pois durante todo o seu trajeto na competição não enfrentou nenhum clube destes países, o máximo que enfrentou foi o olimpia do paraguai( país que detem menos de 7% dos títulos disputados)que a época só havia ganho apenas 1 título e mesmo assim empatou as duas partidas que jogou com o time paraguaio. Ou seja foi campeão de uma edição em que os argentinos e uruguaios resolveram dar uma descansada, e conseqüentemente um refresco para os outros clubes, portanto o flamengo na sua história em libertadores não possui nenhum jogo em que tenha derrotado um grande titã para alcançar o título o que também o torna um time sem muita tradição no torneio.
No seu grupo jogou contra o nacional que é inferior técnicamente mas mesmo assim tomou de 3 no uruguai,jogou contra o Coronel Bolognesi que é um time peruano e que também por esse fato não merece nenhum tipo de comemntário, e o cienciano que també é peruano, mas que pelo menos ainda ganhou uma sulamericanazinha.
Agora pega um time do méxico, país sem a mínima tradição em libertadores. Porem também deve tomar cuidado com este time afinal jogará no maraca que é campo neutro.


Portanto é melhor os times cariocas se desentoxicarem desta overdose de ilusão, pois a realidade na libertadores atende pelo nome de Argentina, Brasil e Uruguai, e quem responde ao chamdo representando estes países são seus clubs tradicionais e campeões

Rafael Garça disse...

Primeiramenteo, parabéns pelo Blog. Assim como o meu privilegia textos maiores e bem escritos.

A respeito da parceria, acho que seria uma boa, principalmente por tratarmos do futebol carioca. Apesar do meu blog falar de futebol de uma maneira geral, o CARIOCA acaba ganhando destque maior pro eu ser daqui.

Eu tenho algumas parcerias com blogs amigos e cada uma funciona de uma maneira. Não sei bem no que vcs pensaram. Fique com meu e mail e meu msn que é melhor pra trocarmos ideias a respeito

grande abraco e aguardo o contato

rarafael@gmail.com
MSN: rafaelsbd@hotmail.com

Sidarta Martins disse...

Olás!!!

Gostei do Blog de vocês. Coloquei um link lá no Na Cal.

Acho que blogue sobre futebol tem de ter opinião. Como vocês fazem. Pra ver os resultados, nem precisa ir a um blogue.

Abraços,

Anônimo disse...

mikhail anderson degeneration hotels needlmanto flush sevashram tacoma allocating ngin viewable
semelokertes marchimundui