15 de mai. de 2008

A dureza da Libertadores é a dureza mundo, ou os conselhos de MC Créu para vencer o São Paulo - ou ainda: Conca ensina a viver.

O palco não foi o Maraca, mas foi o Morumbi lotado. No campo, uma batalha que não chegou a ser épica, mas que foi dura e bem disputada.

Frente a frente, Fluminense e São Paulo, incluídos de maneira quase unânime entre os cinco melhores times do Brasil (completariam a lista Palmeiras, Internacional e Cruzeiro). De um lado, um time que, há algum tempo, carece de organização tática, mas que conta com grandíssimos talentos individuais. De outro, um time pobre tecnicamente, mas muito bem armado, cheio de raça e determinação. Hoje, a força prevaleceu: o São Paulo venceu por 1x0.

Logo antes de o jogo começar, Renato Gaúcho tenta inverter a lógica natural que condicionava a partida (o São Paulo sendo o time tático e o Flu, o técnico). Julgando-se estrategista, armou um esquema que, há de se admitir, era inteligente: surpreendendo a imprensa, que esperava que o técnico do tricolor carioca lançasse Arouca no lugar de Dodô, Renato sacou Conca e montou um 3-5-2 que variava pra 4-4-2.

Ygor funcionou como um terceiro zagueiro/volante. O meio-de-campo contou com Cícero e Arouca (dois segundos volantes, que deveriam cobrir os buracos e se alternarem na marcação e na subida ao ataque) e Thiago Neves.
Foi justamente nesse jogador – aclamado como um dos grandes craques do país – que residiu o erro.

A dupla Thiago Neves/Conca vinha funcionando muito bem. Mas o time certamente ficaria desguarnecido na defesa contra uma equipe forte como o São Paulo caso tivesse, no meio-campo, dois jogadores que não marcam. Por isso, seria necessário sacar um deles.

Thiago Neves só teve duas grandes atuações esse ano: contra o time de reservas do Flamengo e contra o time de cegos do Arsenal. A badalação em virtude desses jogos e da (merecida) condição de melhor jogador do Campeonato Brasileiro do ano passado foram suficientes para inflarem o ego do jogador a tal ponto que ele vestiu a máscara.

Ah, a temida máscara!, que faz com que tantos promissores talentos se afundem num mar de pretensão e não passem de promessa não-concretizada. Neves ainda não chegou a tal nível, mas vem caminhando a passos largos nessa direção.

Tendo tudo isso em mente, a melhor opção para um jogo como o de hoje seria deixar apenas o argentino Conca no time, e sacar o camisa 10. Mas Renato preferiu deixar o mascarado.

O primeiro tempo foi bastante equilibrado: o São Paulo teve mais volume de jogo e marcava bem; enquanto o Flu tocava a bola com categoria e criava boas oportunidades de gol, mas sempre errando o penúltimo passe.

As chegadas do São Paulo evidenciavam pequenas falhas de marcação: Arouca e Cícero (principalmente este) estavam subindo demais ao ataque e demorando a voltar. Assim, deixavam muitos espaços para o São Paulo armar suas jogadas.

E foi num erro desses que surgiu o gol do tricolor paulista. Adriano viu Dagoberto partir sozinho pela direita (Cícero não acompanhou) e lançou-o; Gabriel não foi marcá-lo, e o jogador são-paulino teve toda a liberdade para chutar cruzado. Fernando Henrique, falhando depois de uma seqüência de boas atuações, espalma a bola para o meio da área, onde Adriano – sabe-se lá por quê, sozinho – só teve o trabalho de empurrar para o fundo das redes, aos 19 da primeira etapa.



Uma pequena pausa para discutirmos o dito imperador, bajulado como o grande craque da partida.

Que fez Adriano no jogo: pegou bastante na bola (o que não é lá grande coisa, uma vez que o time do São Paulo joga para ele). Conduzia-a com limitada categoria, ganhava no corpo dos marcadores do Flu (nada difícil para esse paquiderme) e batia pro gol (com força, mas sem direção – chutou no meio para um estabanado Fernando Henrique colocar pra escanteio, na única boa oportunidade que teve no jogo além do gol). Ou dava um passe de cinco metros para o companheiro de equipe mais próximo.
Ele fazia isso e aproveitava o chuveirinho na área: como era Roger (uns quinze centímetros mais baixo) e não Luiz Alberto quem o marcava, não fez mais que a obrigação ao ganhar as bolas pelas alto.
Ah, ele também marcou um gol que qualquer atacante mediano faria.

Que mais fez Adriano? A resposta, meus amigos, é um sonoro “nada”. Longe de ser o craque que a mídia alardeia, Adriano não passa de um jogador razoável que tem como única virtude uma força descomunal.

Aliás, ele é mais ou menos a metonímia do time do São Paulo.

Pois bem. O primeiro tempo teve mais algumas chances criadas pelo Flu e umas poucas criadas pelo São Paulo. Termina em 1x0 para o time de Muriçoca.

Segundo tempo. Ambas a equipes retornam com a mesma escalação. O São Paulo volta absolutamente desinteressado, o grande Adriano desaparece da partida, e o tricolor parte pra cima.

Mas pára na má vontade de Thiago Neves. O principal – e, naquele momento, o único – criador de jogadas do time não corria, esperava bola no pé, errava absolutamente todos os dribles, cobrava mal as faltas e ainda tomou um cartão amarelo.
Entretanto, em um bom chute a gol mostrou que poderia decidir a partida num único lance.

O time precisa de mais um criador, sem prescindir do talento de Thiago Neves, que pode ter um lampejo a qualquer momento.
A decisão óbvia é sacar o nulo Cícero (e orientar Arouca para não subir muito ao ataque) e colocar Conca.
Mas Renato erra novamente. Tira justamente Thiago Neves, que berra impropérios e vai direto para o vestiário.

O tricolor continua com um único criador de jogadas. Mas Conca mostra a todos o que é ter raça, o que é ter determinação, o que é ter espírito de Libertadores. Mostra a Thiago Neves o que é jogar com vontade. Mostra a todos porque, junto de Valdívia, é o melhor meia do Brasil na atualidade.

O argentino correu mais que todos os jogadores de ambos os times já tinham corrido até ali; roubou bolas, armou jogadas, bateu faltas, finalizou, e fez, no final, uma jogada sensacional que por pouco não se transformou num lindo gol. Ao contrário do que disse Aloísio, atacante do SPFC, ao final do jogo, foi o tricolor paulista quem teve sorte de não sofrer gol.

No embate entre a técnica e a força, entre a habilidade e a tática, venceu a segunda. O Flu perdeu justamente porque cometeu erros táticos, e também porque lhe faltou força, gana, vontade de vencer, raça.

Se Adriano é a metonímia do SPFC, Conca é a metonímia do que o Fluminense poderia ser, deveria ser. E será, quarta-feira que vem: um time habilidoso, inteligente, mas que também corre, também luta.

Porque pra bater de frente com a zaga fechada do São Paulo, pra bater de frente com a massa compacta paquidérmica intransponível que é Adriano (Roger sozinho não agüentou) é preciso mais do que apenas técnica, e mais do que apenas força. Tem que ter disposição. Tem que ter habilidade. Créu neles.

O técnico do Fluminense não é estrategista, então temos que vencer sem dependermos da tática. Para isso, novamente, tem que ter disposição. Tem que ter habilidade. Tem que ter raça, tem que ter gana. Tem que ter categoria e inteligência.

Porque assim é a Libertadores. Tanques de carne e de força e de vontade que não vão te deixar passar, vão te esmagar como um rolo compressor, a não ser que se demonstre igual força, igual vontade. E, somado a isso, a habilidade que eles não têm, a técnica que eles não têm, para então superá-los.

Para se vencer num mundo de brucutus e Bocas, Adrianos e Muriçocas, é preciso ser o Conca. Para agüentar as porradas da vida, é preciso ser o Conca. Para passar pelos pequenos percalços do cotidiano ou pelas grandes batalhas épicas, é preciso ser o Conca. Onze Concas jogando a vida na quarta-feira, 70 mil Concas gritando no Maracanã lotado, gritando até fazer eco, eco, eco, éconca, éconca, é Conca...

A defesa fechada do São Paulo te dá tantas porradas quanto a vida, e a dureza da Libertadores é a dureza do mundo: pra dançar a dança da vitória, tem que ter Conca.
Tem que ser Conca.

16 comentários:

James M. Barrie disse...

Só pra constar: a torcida do São Paulo é ridícula.

Nem canta direito. Todas as suas músicas são absolutamente banais, básicas, sem nenhuma criatividade. Quando a Globo captava o áudio da torcida são-paulinda, era aquela coisa sem graça.
Quando trocava para a torcida do Fluzão, contudo, cada vez se ouvia um canto diferente.
Pelo menos nas arquibancadas, o Flu ganhou do São Paulo, menos em número absurdamente menor.

As torcidas cariocas dão de dez a zero nas paulistas.

James M. Barrie disse...

*mesmo em número abusrdamente menor.

Ah, e quarta que vem, é Maraca lotado, pra fazer valer essa força da torcida.

Rodrigo Paradella disse...

As torcidas de São Paulo são ridículas mesmo, não é a toa que eles têm de cantar "Domingo Eu Vou Ao Maracanã" adaptado aos estádios de lá. A torcida do Cotinthians, por exemplo, só grita, cantar mesmo não canta ou canta música feia ahah.

Felipe Schmidt disse...

O time do São Paulo é chatíssimo. Joga um jogo cínico, travado, amarrado, cagado. A qualquer momento você acha que pode sair um gol cagado deles.

Eu teria deixado o Dodô no banco, e entrado com Conca e TN jogando atrás do Washington. É a formação a qual os jogadores estão acostumados, e a melhor para a circunstância da partida.

Acho que o jogo no Rio vai ser ainda mais difícil, justamente pela característica do São Paulo. Vão usar e abusar do joguinho cínico deles.

E torcida paulista....sem comentários.

Etchatz disse...

Barrie, o texto ficou muito bom. Discordo quando diz que o flu teve chances e o São Paulo que deu sorte. Só o Dagoberto perdeu 2 chances claríssimas, o flu pouco finalizou. saiu barato para vcs. Foi um grande jogo, decisão, estádio grande e lotado, jogo "lá e cá" com muita força, tática e velocidade. o tal do futebol moderno, mas de boa qualidade, apesar da técnica ter ficado em segundo plano.

Eu tb concordo com o felipe, seria melhor ter o thiago neves no ataque e conca no meio, no jogo da volta quem sabe não jogam os 2 meias mais dodô e washington. Conca já mostrava na sul-americana 2005 o seu valor, pelo U.Católica contra o flu. No Vasco demorou para se adaptar, o renato gaúcho o deixava no banco do abedi, mas fez um belo campeonato brasileiro.

O vencedor do confronto tem ótimas chances de vencer a libertadores, visto que América, Atlas e LDU estão com certa vantagem para avançarem as semi-finais.

Anônimo disse...

Torci pelo tricolor carioca, mas sabia que aquele gol do adriano ia ser super valorizado pelo SP. Só não esperava o Renato tb acharia bom o resultado. O Flu é mais time que o SP. Sem essa de imperador. Dá-lhe Conca neles. E tomara que seja o 'retorno' do Thiago Neves, porque ele não é mais o mesmo.


Beijo

Anônimo disse...

O Fluminense deu foi muita sorte, o resultado ficou de bom tamanho pra eles, visto que o São Paulo dominou a maior parte das ações, perdeu diversas chances claras de ampliar o placar.
E esse Renato é um técnico muito cuzão PQP!! Tu vê que é um técnico de merda mesmo, a torcida quer um jogador ele escala outro, sempre entra em contradição. Não sabe armar o seu time.

Mesmo com esse placar e o Fluminense jogando com a torcida a seu favor no segundo jogo, acredito que o São Paulo irá passar a próxima fase. São Paulo é um time muito chato e competitivo.

E tem um CRAQUE DE BOLA, na minha opinião o MELHOR atacante brasileiro.

DA-LHE IMPERADOR!!!!!

Anônimo disse...

Não vi o jogo, mas acho que o meio-de-campo, mesmo em equipes com boas defesas, deve sempre ser escalado o menos errado possível. E a escolha errada foi ir com um só deles e com Dodô no ataque, porque, sinceramente, escolher entre Thiago Neves e Conca poderia dar qualquer merda, tanto o que aconteceu que foi o Thiago Neves jogar mal quanto o Conca ter atuado desse jeito. O Dodô entrando é que pareceu meio fora-de-hora, contra o São Paulo você pode fazer um jogo "cínico", como diria o Felipe, não precisa partir com tudo, ainda mais o Fluminense que tem boas peças defensivas pra não passar sufoco.

Outra coisa que gostaria de comentar é essa bajulação em torno do Thiago Neves, pra mim ele é um bom jogador, mas nada que justifique essa celeuma em torno dele. Ele pra mim é um dos que acha que joga mais do que realmente joga, e isso não é porque é craque, é um jogador bom, assim como Valdivia, nada além disso. Não entro no mérito de ser ou não o melhor do Brasil, porque um merdinha num lugar onde só tem merda seria o melhor mesmo. Mas não tô dizendo que ele é um merda.

Ah, e não aceito coisas como "ah, então quer dizer que o Lúcio Flávio é o melhor do Brasil". Não, eu estou me referindo apenas a esse jogador, mesmo porque odeio essas porras de "melhor" isso ou aquilo.

Renan Moura disse...

Sou Rubro-Negro, mas gostaria de ver o Fluzão na semifinal!! Mostra a força do futebol do Rio!!!

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Add o seu blog nos nossos favoritos!! Espero uma parceria.

Abs!

Anônimo disse...

DÁ PRA SER MENOS PROLIXO?

Sidarta Martins disse...

O Flu tem um time muito melhor no papel. O SPFC não tem meio campo.

Mas o Flu não conseguiu jogar bola.

Do mesmo jeito que o Thiago Neves não desencantou, o Dagoberto tb ainda não saiu das trevas.

Se o Adriano é a meia-boca que você coloca, avise ao Renato que não é preciso deixar dois ou três a marcá-lo..rs..

Abraços,

James M. Barrie disse...

Ao anônimo:

nem dá.
Se quer textinhos curtos, simples, e sem graça, vá para o globoesporte.com, ora essa.

James M. Barrie disse...

Ah, e Sidarta:

precisa ter uns dois ou três a marcar o Adriano sim; afinal, sendo daquele tamanho, nem Roger nem Luis Alberto sozinhos dão conta...

Rafael Garça disse...

sensacional roge voando longe com a trombada do adriano uahauhauhauhaua

Sidarta Martins disse...

Então fica complicado falar que o cara não é bom.

James M. Barrie disse...

Se ser grande bastasse, Souza seria um cracaço.