24 de out. de 2008

Vamos brincar nessa reta final de campeonato!


Renato Gaúcho já profetizava, quando ainda naquele time colorido. Agora é o momento da Caravela deslanchar de vez, 3 jogos no Rio (Atlético/PR, Flu, Santos). A torcida, como não podia ser diferente, está ao lado do time, que saiu aplaudido do Maraca no último domingo.

Naquele instante, mesmo sendo derrotado pelo maior rival, na última colocação do campeonato, a situação começava a mudar. O empate, cedido ao Sport, doeu, porém já evidenciava o novo panorama. A grandeza adormecida se fazia presente no momento de maior necessidade.

Goiás, líder do returno, 8 jogos invictos (5 V e 3 E). Vasco, maior sequência sem vitórias em sua história no Campeonato Brasileiro (7 D e 2 E). A matemática e seus números frios apontam quase 80% de chances de rebaixamento para o Gigante da Colina, em goiânia outro eminente fracasso.

Difícil calcular o quão pesa a volta de um velho ídolo, 10 anos mais velho. Complicado atribuir a melhora no setor defensivo a um zagueiro pesado, formado e escorraçado na Gávea. Assim como encarregar a armação do ataque a um garoto de 1,60 m em parceria com um menino que recém chegou a maioridade, pulou a categoria júnior, reprovado no estúpido exame teórico do DETRAN para primeira habilitação. Tudo isso, talvez, na maior crise de certamente um dos maiores clubes. Felizmente a lógica matemática passa longe do futebol, o que em muito lhe acarreta em interesse.

O jogo. O esquema com 3 zagueiros foi confirmado, mesmo sem a qualidade dos 3 confirmada. Edmundo reassumiu a vaga de Alan Kardec. Como um autêntico pivô flutuava pela intermediária esmeraldina, prendia os zagueiros e distribuía a bola no campo de ataque. Uma atuação digna de um fora de série, veterano é verdade. Quando Mateus - muito boa atuação, saindo pro jogo, sofreu um pênalti ignorado pela arbitragem, um volante no estilo que o time de Dunga precisa - achou espaço, de frente para o gol adversário, não titubeou e mandou um um balaço de canhota, no rebote ele, em breves segundos, balançou as redes pela 151 em campeonatos brasileiros.



Um despretensioso lateral resultou em bela arrancada de Alex Teixeira, 2X0, difícil finalização da promessa, que no fim da temporada passa a mostrar confiança. O estranho Valmir vacilou, pênalti desnecessário, 2X1. A importante vitória é ameaçada, a boa atuação é mais uma vez comprometida por uma falha individual. O coração vascaíno bate depressa.

Segundo tempo. O jogo já não é tão favorável, o Goiás volta melhor. Antes dos 10 minutos, mais uma vez Valmir dá mole, sai jogando errado, cruzamento na área e o bom Iarley empata. "Puta que pariu, tá tudo dando mesmo errado, Leandro de fora por causa do Odvan, 2 meses sem vitória, Edmundo e Leandro já perderam pontos no Cartola por terem levado gol, derrotas em casa para times horrosos, desse ano não passa o rebaixamento tão presente entre 2002 e 2004".


Mais uma vez surge o imponderável, tão presente no futebol, que diferencia os homens dos meninos (ótimo clichê!). Jorge Luiz sai em mais uma pavorosa arrancada ao ataque, manda uma bola quadrada pra Edmundo. Sozinho ele prende a bola, aguarda a chegada daquele que no domingo fez um gol pelo Obina. Jorge Luiz recebe de frente para a meta adversária - "filha da puta, solta essa bola que tu é ridículo, não vai isolar" - e num momento de rara sabedoria toca para Mádson, capenga pela direita. O baixinho chuta com a perna desfavorecida, a bola desvia em um velho conhecido, Henrique, - cria do Vasco, que em 2004, na penúltima rodada fez o gol do 1x0 sobre o Atlético/PR, decidindo o Campeonato Brasileiro em favor do Santos, livrando o Vasco da possibilidade de rebaixamento - passando por debaixo das pernas do goleiro, 3X2, 2 minutos após o empate.


Para finalizar, 5 minutos mais tarde Edmundo é agarrado na área, dessa vez não teve como Gaciba não assinalar a penalidade máxima. Pênalti, decisão, Edmundo. Bola no ângulo, gol 152. Estranhamente ela tocou a rede e voltou com força, Mádson estufou as redes para não deixar dúvidas de que a noite era vascaína, 4X2. Para fechar com chave-de-ouro, aos 18, Jonílson, o muso do brasileirão, desarmou o ataque goiano, vibrou com intensidade batendo no peito. Por um instante me veio a lembrança do reizinho da colina na final da Copa Mercosul no Palestra Itália.



Tomara que essa vitória seja um marco. Tomara que o ex-presidente não precise acabar com a vida do atual. Tenho a certeza de que somos muito grande. O Vasco é o time da virada.

22 de out. de 2008

Me engana que eu (não) gosto...

Voldemort vai te pegar

O clássico contra o Vasco era a oportunidade perfeita para que o Fla recuperasse a confiança do torcedor e voltasse à briga pelo título. Bastaria enfrentar um rival retalhado por desfalques, devastado psicologicamente e desesperado na lanterna. Além de tudo, os rivais à frente da tabela teriam jogos difíceis e a probabilidade de perderem pontos era grande. Bom, a vitória veio, os rivais tropeçaram, mas o principal não aconteceu: o Flamengo voltou a jogar mal, muito mal, mal mesmo. E, apesar de agora estar a apenas quatro pontos do líder, não inspira a mínima confiança numa arrancada rumo ao hexa.

Este blogueiro-torcedor achava que a vitória heróica contra o Sport poderia ser a virada, o marco para uma mudança de atitude, dadas as condições daquele jogo. Ledo engano. Depois, a equipe jogou para o gasto contra o Náutico e deu vexame contra o Atlético-MG. Vale lembrar que, antes, já havia jogado mal contra o Ipatinga e o São Paulo. Assim, caros dois leitores do Ecos, a última boa partida do Flamengo ocorreu há 48 dias, na vitória contra o frágil Figueirense.

Essa retrospectiva tem o intuito de mostrar que, mesmo colado nos líderes, o Flamengo ainda não mostrou um futebol convincente e merecedor de título ou Libertadores. Afinal, qual o problema do time? Há uma clara insegurança no técnico Caio Júnior, alguns boatos insistentes sobre um possível clima ruim entre jogadores e treinador, além da famigerada questão do entrosamento e da má fase de alguns jogadores importantes(leia-se Ibson).

Como dá para ver, a questão passa toda pelo pequeno Harry Potter. Ele não consegue dar um padrão tático ao time, oscila entre um meio-campo de volantes e outro sem cães de guarda e cisma que Marcelinho Paraíba não pode jogar no meio. O resultado? Um atacante sempre isolado na frente, porque o meia de cabelo rubro-negro tem como padrão recuar para armar o jogo. Culpa do Obina, do Vandinho, do Josiel? Tirando o artilheiro do Brasileirão-07, que é ruim demais, não. Some isso a um cerceamento dos laterais - Léo Moura passou uma época atuando como lateral de verdade, e não ala - e você terá um time engessado, sem velocidade e sem capacidade de roubar a bola, algo que fez muita diferença naquele bom começo de campeonato.

Outra questão é a dos reforços. De todos, apenas o supracitado Marcelinho Paraíba vingou. Josiel e Eltinho são uma piada de péssimo gosto, Vandinho mostra potencial, mas é prejudicado pelo esquema tático, e Fierro vem sendo subutilizado, assim como os desconhecidos Fernandinho e Fernandão - que sequer estrearam. Sambueza mostrou bom toque de bola, mas ainda não teve chance de iniciar uma partida, enquanto Éverton é jovem promissor, mas ainda oscila muito. Resumindo, o elenco não teve um grande acréscimo de qualidade, e sim de quantidade. E olha que ficou sem reserva para a lateral esquerda, justo no momento em que Juan passou a ser convocado para a Seleção.

Expostos os problemas, é simples ver que o Flamengo depende de uma maturação da equipe que precisa acontecer o mais rápido possível, para que os objetivos traçados sejam alcançados. Jogando o futebol atual, sem definição, sem imaginação, a equipe vai morrer pelo caminho, até porque seus rivais, se também não são brilhantes - o que mostra o nível do Brasileiro - têm mostrado bem mais consistência nessa reta final. Vale lembrar que o Fla ainda tem dois confrontos diretos contra esses rivais, ou seja, precisa achar logo devolver ao time um equilíbrio que possibilite atuações melhores e, conseqüentemente, resultados. Atuações ruins podem converter-se em vitórias, contra times mais fracos, mas contra os líderes será preciso mais, muito mais, mais mesmo.

21 de out. de 2008

E o esquema?

Corre que tem boi na linha!



- Fala, p’cêro
- Fala, rapá
- Aí, ta ligado que a Med-uni tá oferecendo um strogonoff pra trazer uns bagulho aí?
- É, rapá, to ligado nesse bagulho sim. Pô, o Tonshinwa perde gol pra caceta!
- Tá enrolado esse baseado, mas esse strogonoff vale a pena. É pra trazer um tal de Cielo, acho que é aquele maluco lá que dá umas nadadas.
- É, mas tem uns outros boi também. Só sei que o Dodô não se encaixou nessa parada do strogonoff, maluco vazou.
- Ta maluco, rapá? Come que tu sai falando o nome do cara assim?
- Porra, foi mal, é que se inverter o nome dele dá no mesmo!
- Então fica ligado nessa porra, mane! Já faturamo muito strogonoff com os Agothis, o Vesne e o Vasil.
- Já é então, cara, é nóis.
- Vamo entregar esse bagulho agora, sapinhooooo!
- Beijão!


Sou um jornalista blogueiro de muito prestígio no meio jornalístico-blogueiro, então venho usar esse espaço para divulgar mais uma das artimanhas desse futebol brasileiro que a cada dia nos decepciona e nos prega uma nova peça. Segundo minha fonte confiável vinda diretamente da cozinha do Fluminense, venho tornar público esse esquema absurdo de compra, venda e criação de jogadores, o esquema do strogonoff. E, devido à minha seriedade, não tenho medo de falar. Porque eu, Renato Maurício Prado, o Canhoto, não me escondo por trás dessa alcunha para falar a verdade. Podem vir cobrar de mim, dou a cara a tapa.

Bom, toda essa baboseira retórica é que foi uma artimanha. É apenas uma introdução para destilar aquilo que passa pela minha cabeça quando penso em Fluminense e Vasco na zona de rebaixamento: foi tanta merda feita que parece existir um esquema para que os dois caiam. E não é aquele esquema que “todo mundo sabe”, é algo de forças maiores, forças internas, que não parecem muito preocupadas com o final desse esquema dentro de seus próprios clubes.

A história da dupla carioca me faz lembrar um outro rebaixamento duplo: o de Palmeiras e Botafogo, em 2002. Foi um descenso pioneiro! Depois daquilo, virou moda cair para a segunda divisão. Porém, nada foi (é) tão parecido quanto o caso desse ano. Fluminense e Vasco representam, respectivamente, a repetição do caso de palmeirenses e botafoguenses naquele fatídico ano, ano esse que me arrisco a dizer que foi o pior do futebol brasileiro, horroroso, terrível, mesmo com o título mundial da Seleção e o brasileiro do Santos de Robinho, Diego e André Luís(!). Lembro-me muito bem, as rádios não paravam de tocar Linkin Park...

O Fluminense, assim como os porcos, não tem time pra cair. A cada rodada, esperava-se que o time iniciasse uma arrancada e que a partir daí, ganhasse jogos com alguma calma e se salvasse da situação sem mais drama. Porém, as rodadas foram passando e o time foi dando vários moles seguidos, culminando sua tragédia num Barradão ensolarado só para os baianos, porque para os palmeirenses o placar de 4 a 3 representou na verdade o ato de arder no mármore do inferno.
Os tricolores abusam(ram) do direito de dar moles. Confesso que não entendo muito bem porque seu presidente, Roberto Horcades, é tão massacrado. Já escutei até que ele era culpado pelo grená de um modelo da camisa do Fluminense não ser 100% grená, o que feriria o estatuto tricolor. É claro que quem disponibiliza todo o possível para a Unimed entrar ( espero que tenha sido sensato o suficiente para não disponibilizar coisa demais...) está sujeito a sofrer ataques e ter problemas, mas nunca entendi muito bem. Ah, claro, ele também se aliou a Eurico na eleição da FERJ, isso foi escroto. Que maluco escroto!

Sendo mais específico, Horcades, Gaúcho e sua trupe colorida foram muito amadores nesse ano de 2008. Havia um objetivo claro: conquistar a Libertadores. Construiu-se um vestiário escrotizado, o que poderia ter passado em branco com o título. Construiu-se uma autoconfiança exagerada, o que poderia ter passado em branco com o título. Como o título não veio, não se procurou contornar esses problemas, e preferiu-se seguir o axioma renatogaúchês: “Vamos brincar”. Todo mundo achou que era só colocar o Winning Eleven no Easy que podia até dar carrinho no goleiro que não ia acontecer nada. Ainda acho que o Flu se salva, mas em 2002 também achavam que o Palmeiras ia se safar...Isso sem contar as trocas de treinadores e contratações bizarras (uma delas explanada no esquema do strogonoff). CIEL, CIEL, CIEL.
Foto do arquivo de família

Já os cruzmaltinos assemelham-se ao Botafogo, ou seja, um time horroroso que tinha que cair mesmo, com uma administração tosca, que foi fazendo o time cair aos poucos. Aliás, o meu Glorioso, que em 2002 esteve longe de ser Glorioso (velhos tempos de Nenzão, Esquerdinha e Ademílson), serve de base para uma comparação curiosa entre as duas gerações de rebaixáveis. Se Dodô engrossava as fileiras do Palmeiras em 2002 e do Flu esse ano, ODVAN, ODVAN, ODVAN enriqueceu o QI dos times de Botafogo, àquela época e Vasco, hoje em dia. Talvez seja só um sinal.

Mas enfim, a herança euriqueira no Vasco parece ter ficado entranhada no clube. A rivalidade com o Fla já não é mais a mesma, nem mais vice eles são(eu sei como é isso...). O jejum de títulos e jogadores decentes é longo, a ponto de SOUZA, SOUZA, SOUZA ter sido o herói do último título vascaíno. Assim que se iniciou o ano de 2008, previram-se problemas para o Vasco, mas este até que se equilibrou no chove-não-molha até o meio do ano, mas a partir da metade do Campeonato Brasileiro, o seu não-talento ficou evidente e, somado a turbulências políticas, deixou a situação futebolística do clube muito complicada.

Se Nenzão era a razão de meus pesadelos naquele famigerado ano, veja se o diálogo a seguir não seria realmente verossímil:
- Aí, rapá, o ambiente aqui ta todo esfumaçado, cara...
- Sinto o passarinho verde e amarelo repousando no submarino que atravessa a costa, ta ligado?
- É, com marujos defenestrados por Deus, cara...
- Aí, sabe o que eu tava pensando? Vamo contratar o Odvan, o Fernando?
- Caraaaaaaalho, meu! Tu é da pesada! Dos meus! Já tava sentindo essa química entre a gente. Esse baseado é do caralho!
Talvez quem comanda por aquelas bandas tenha se exaltado com o filmaço “Pineapple Express” (ou “Segurando as Pontas”):

Some-se esses dois medalhões aos já escrotizantes Jorge Luís, Vílson e outros inúmeros garotos postos na fogueira e terás um resultado mais bizarro do que aquelas montagens do Chaves em que o Seu Barriga e o Nhonho apareciam na mesma cena.

Bom, baseados e strogonoffs à parte, eu, embora carioca, não torço para o rebaixamento de tais times. Não é porque eles não ganharam nenhuma vez do meu esse ano. É porque eu sei como é ruim ir parar na UTI por causa de maus modos/comida estragada.


REBAIXAMENTO, REBAIXAMENTO, REBAIXAMENTO (mensagem subliminar espalhada ao longo do texto).

18 de out. de 2008

No Surprises

"Eres una cambada de huetários"


A capa de domingo do jornal Marca, da Espanha (para quem não sabe, na Espanha a essa hora todos já viraram a night boêmia de Ibiza regada a muitos seios e glúteos e estão no sono de domingão) diz: “La Vida Sigue Igual”. É uma referência à vitória de 2 a 1 do Real Madrid sobre o Atlético, no dérbi local, e a conseqüente manutenção do tabu diante do adversário, que chegou à marca de quatorze clássicos seguidos sem vitória dos colchoneros. Mas poderia muito bem ser uma alfinetada na situação do Botafogo, tendo em vista suas últimas temporadas.





A rotina já é manjada: encantar no Carioca e perder para o Flamengo na final, ficar na semi-final da Copa do Brasil para um time medíocre e criar expectativas no Brasileiro, terminando com o prêmio de disputar a Copa Sul-Americana do ano seguinte. Não há mais surpresas, como diz Thom Yorke, e o que acaba restando ao torcedor é resignar-se diante da melancolia da vida. Tá, não é pra tanto, mas não venham me dizer que o título da competição internacional vai representar algum marco na trajetória do clube.

Os torcedores vamos, ano a ano, acreditando que as coisas mudarão, que a marra dos flamenguistas vai se desfazer assim como o Triguinho se desfaz da bola. Surgem ídolos instantâneos que, sem precisar fazer muito, são alçados a essa condição e contestados no momento seguinte. Justiça seja feita também: no fim das contas, bem ou mal, a cornetagem acaba ficando diluída e ganhando um pouco de razão, haja vista os resultados obtidos ao final da temporada.

O nível de xingamentos e atribuições de culpa nos gols a Castillo é tão absurdo que faz parecer que o uruguaio é o alterego de Dunga, Lúcio Flávio é mais desanimado do que o Biriba(ou Biruta, os dois são brochantes), Alessandro e Triguinho têm cabeças que representariam de forma muito clara os Conjuntos Vazios que a gente via todo ano no colégio em Matemática. Bebeto de Freitas e companhia são tão bonzinhos, mas tão bonzinhos, que acabam só se fudendo. Tendo em vista esse panorama, ano a ano ficamos nesse rame-rame, taxados de chorões, afinal vamos nos orgulhar do quê?

Thom Yorke se preparando para fazer o triângulo da Fúria

Não é uma desistência, é só uma exposição de uma realidade que se repete constantemente, e que acaba não sendo combatida. Ir do título para a Libertadores e da Libertadores para a Sul-Americana faz pensar se as coisas têm sido bem feitas. É melhor do que brigar para não cair, mas é evidente que se tem (teria) condições de traçar planos mais ousados. É entrar na fila pra comprar o disco novo do Strokes e ele acabar antes de chegar a sua vez. A atendente te oferece o novíssimo do Kaiser Chiefs e você responde : “Ah, tudo bem, pode ser.” Não é ruim, mas fica a sensação de que você mais perdeu do que ganhou.

Sendo assim, tudo que a torcida quer é uma nova cor ao seu cotidiano, pois não está na sua repetição o problema. Você não vai encontrar o Bernardinho e escutar dele: “Que tédio, não agüento mais ganhar, vou praticar bocha”. A vitória é a repetição que não enjoa. É muito pouco palpável essa dignidade, esse orgulho de ser botafoguense, se ele cai na mesmice do ser por ser.

Apesar de tudo isso, a melancolia radioheadiana não leva a situação(ou a oposição) para a frente. Talvez seja necessário escutar algo como isso...



PS: Sim, o texto só pretende desabafar, não cobre conclusões dele.

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Desafogue-se você também.

17 de out. de 2008

Murphy bem que avisou

Prefácio: Esse texto teve a sua versão original modificada. Por motivos de segurança, profissionais, familiares e para tentar dar mais credibilidade ao “Ecos do Maraca” ( se é que ele ainda não tem), foi retirada parte da passionalidade na qual as palavras estavam mergulhadas, principalmente porque foram escritas algumas horas depois do fatidico episódio. Além disso, a aplicação da racionalidade, em muitas vezes, serve para esconder ou amenizar feridas emocionais, tão profundas e reveladoras, como a aberta na noite de ontem. Como vascaíno apaixonado por futebol, ainda me restam poucas alegrias. Vamos em frente.

A gente veste a camisa, enfrenta o Metrô lotado, finge que não vê o Ricardo Teixeira ficando mais podre de rico, se ilude com a partida contra a Venezuela, tudo para manter o sonho de ser mais feliz por alguns instantes. Afinal de contas, o futebol é o ópio do povo. Porém, mais uma vez, a seleção brasileira de futebol aprontou uma das suas. Depois do jogo, as fichas caem: " Nada está tão ruim que não possa piorar." e "Se alguma coisa pode dar errado, dará. E dará errado da pior maneira, no pior momento e de modo que cause o maior dano possível".


O Brasil repetiu a mesma atuação do que contra a Bolívia (talvez pior) e novamente deixou o carioca irado. Quem enfrentou a fila nas Saraivas, nas Laranjeiras e nas bilheterias do Maracanã se arrependeu amargamente. Até o cachorro-quente vendido no estádio ficou com gosto de jiló com aspargo. O Brasil criou no máximo três razoáveis oportunidades de gol, e olhe lá. Foi previsível. Uma atuação pífia, horrorosa, ridícula, tenebrosa, (sem)vergonho(sa), lamentável, da maioria dos jogadores, exceto Júlio César, Lúcio e Juan.

A Colômbia merecia ter vencido o jogo. Foi mais incisiva, ativa e empolgante. O problema é que eles são muito ruins. Muito mesmo. Não comentarei os lances da partida, pois estou tentando apagá-la da minha memória. Para sempre.

Não se faz aqui uma super campanha anti-Dunga ou algo parecido, por mais tentador que isso possa ser. Não sou eu quem vou assumir o cargo, então não importa muito quem vá a ser. A questão é que ele não tem nem experiência e nem qualidade para comandar a Seleção. Sua leitura de jogo não existe. O time não possui uma organização tática. Para Dunga, sobra no máximo uma função de auxiliar de motivação no intervalo.


Primeiro, o ataque: A Colômbia não jogou na retranca, muito pelo contrário, sua marcação estava adiantada. O que ela fez foi reduzir o espaço entre a defesa e o meio-de-campo, criando assim um bloco de oito jogadores. Nessa situação, o ideal é abrir bem o jogo pelas pontas, quase nas linhas laterais, aproveitar a "Linha Burra" dos quatro últimos colombianos, enfiando as bolas nas costas (ui!) do adversário, ou trocar passes rápidos pelo meio, para que o sólido se desfaça. Mas nenhuma dessas opções estava no cardápio brasileiro. Os laterais não chegaram até a linha de fundo, o meio-de-campo andava, Kaká e Robinho não jogaram nada e Jô não se achou em campo. Não agrada, nunca agradou. A lista de possíveis substitutos é gigante.


O Triângulo das Bermudas (Elano, Josué e Gilberto Silva) foi mais burocrático do que processo de votação de lei no plenário. Aliás, o caminho sombrio para o empate tosco já estava trilhado, nós é que demoramos para perceber: Elano era o cobrador oficial de faltas. Esse último, colocado em campo para ser um meia, ou até uma válvula de escape pela direita, não foi bem. Com Dunga, a Seleção Brasileira não sabe se impor, só joga no contra-ataque.


Agora falando de defesa: O Brasil não pressionou a Colômbia. A Seleção só marcou meio-campo. Se acovardou perante os nada perigosos colombianos. Enfim, se portou como pequena, não apertou a saída de bola, deixou o adversário trocar passes tranqüilamente, como se estivesse no aquecimento.

O problema, portanto, vai do faraó ao escravo maneta que é convocado para construir a pirâmide. O cenário começou a ser montado pela CBF, com a babaquice de premiar Robinho e Kaká (não discute-se a premiação em si). Isso tira o foco do jogador. Depois veio Dunga. Escalou mal, treinou pior ainda, foi apático à beira do campo e não conseguiu corrigir as falhas do time. Além disso, ele não consegue aproveitar a ofensividade característica de Kléber (que fase!) e Maicon. Com isso já preparado, só faltava a cereja no topo. Os atletas não mostraram empenho, criatividade e principalmente qualidade. A movimentação necessária não aconteceu. Alguns deles pareceram perdidos, desacreditados de seu próprio potencial. Cansaço? Então pede pra sair! Pede pra sair! Pede pra sair!!


Nem mesmo Kaká, que muitos dizem saber muito bem “ler o jogo”, ficou perdido, não buscou o jogo pelo meio, atuou mais como um atacante. Depois da partida, foi buscar explicações não sei aonde.


Não adianta reclamar da torcida. Ouviu, Anderson?? Ninguém aplaude um espetáculo de “penta” categoria. Só resta ao torcedor vaiar. Vaias essas que, cada vez mais rápido, se transformam em bombas-relógio, capazes de serem detonadas a qualquer momento. Não me recordo qual foi o cabeça-de-bagre que soltou a seguinte pérola: “O que importa é a tabela de classificação”. Vai pensando assim, vai. Pois é. Pelo jeito, o pragmatismo e a mediocridade reinam soberanos. Rei e Rainha, de mãos dadas, levando o futebol brasileiro para um buraco-negro.

O pior, para quem tanto se vangloriava de ter a melhor Seleção do mundo, é constatar que não somos mais isso. Longe disso. Ganhamos a Copa América porque o Robinho jogou muito e porque aplicamos belos contra-ataques na Argentina. Desde o desastre de 2006, o Brasil se distanciou do trono de melhor seleção. Podemos até ter ótimos jogadores, mas existem ao mesmo tempo problemas simples e complexos que vem desde a Copa atrapalhando a construção de uma equipe de qualidade. Falta dedicação, falta qualidade, tempo, dinheiro, alegria, identificação, esperança, arte, raça, transparência, falta tudo. Menos decepções. Para estas, sempre haverá espaço, não é?


Mais Seleção, graças a Deus, só ano que vem.

15 de out. de 2008

Tioria do Indefinimento


Ninguém é de ninguém



Ou talvez o Manifesto de Exaltação ao Jogador Medíocre.


Essa teoria vem concorrer para a visão perturbadora de que o futebol não é só um espetáculo, é uma competição. Ser uma competição é ter envolvido não só a apreciação e degustação do fantástico, mas também a disputa, o acirramento, a glória suada. É quase um slogan da ditadura. Em outras palavras, é uma ode ao imprevisível, que dá as caras como em nenhum outro esporte e torna a competitividade um atrativo a mais.

Algumas coisas devem ser ditas. Desde 1971, curiosamente os Campeonatos Brasileiros em vigência são sempre os piores de todos os tempos. Fico imaginando cruzeirenses saindo às ruas no ano de criação do certame e desmerecendo o título do galo, pois aquele era “o pior campeão brasileiro de todos os tempos”. Criou-se uma lenda de que o futebol tende somente a decrescer em qualidade (o que é óbvio, até), mas que essa qualidade não só diminuiu como sumiu. Fala-se tanto em campeonatos estrangeiros, abarrotados de craques brasileiros, argentinos, franceses, búlgaros e panamenhos, como se a plantation de jogadores de futebol viesse com carimbo de qualidade. Assista a Avaí x Vila Nova e depois a Inter de Milão x Juventus e depois venha me dizer o que achou. Naturalmente, o segundo é um trilhão de vezes superior.

Se a qualidade sumiu e as poucas esperanças foram para a Europa, então, que tal abolir a liga (liga?) atual? Afinal, este é o pior campeonato de todos os tempos, e o campeão que virá a ser proclamado será o pior de todos, pior do que o último que havia sido o pior até o ano passado.

É claro que é muito difícil se convencer que um time treinado por Celso Roth possa ser campeão de qualquer coisa, mas onde está o valor de um campeonato onde até sete, oito ou nove times podem conquistar o título com nove rodadas por jogar? Se o futebol está criando surpresas mundo afora, o nosso campeonato é praticamente um caso de a surpresa ser não haver surpresas. E como isso o torna uma disputa totalmente inenarrável.

É a exacerbação da teoria da caixinha de surpresas. É como uma prova de Sistemas de Informação: tudo pode acontecer. Você pode se julgar super-preparado e brochar com a nota, ou pode viajar pro Caribe e mandar bem. O Renato Silva pode entregar o ouro num jogo e fazer um gol de voleio e entregar o ouro no outro jogo também. Nunca se sabe.


Aí vem o Zárate, Zárate, Zárate!

E nem só de exemplos escrotos como esse vive a tioria do indefinimento: nosso amigo-foca Zárate provou o sabor dos dois lados em curto espaço de tempo, a ponto de se duvidar claramente do fato de um gol do Botafogo ter sido marcado por ele. Ah, ele é atacante.

Quer outro exemplo? Que tal um time que é declamado desde o início como hiper-favorito, que tem as maiores estrelas, brasileiros e estrangeiros, mas que está na honrosa décima posição? Vão aí duas peripécias desse mesmo time, coisas coerentes como perder para o lanterna e golear o líder. E olha que teve muito mais durante o campeonato.





Isso vem para depor contra os teóricos do espetáculo e do desmerecimento. É melhor ter dez times disputando um título e deixando tudo indefinido do que ter dois ou três e bajular toda e qualquer jogada que um jogador-lindo-gostoso-promissor-forte-jovem-que-joga-na-Inter-de-Milão-e-come-a-Scarlett Johansson faz. Mas não é uma exaltação ao Brasil.

Afinal, esse texto rocambolesco todo era só pra dizer que a Colômbia vai ganhar do Brasil amanhã.