3 de jun. de 2013

O mundo tá mudado



Os chamados (por mim mesmo) livros de ficção social sempre foram meus preferidos. Obras clássicas como 1984, de George Orwell, ou Admirável Mundo Novo, de Aldous Huxley, despertaram em mim o fascínio em imaginar como seria a sociedade no futuro. Durante os meus devaneios em tentar eu mesmo começar um romance, era nesse tipo de história que queria me espelhar. Não pensar no futuro como a era das espaçonaves, armas de laser e humanos com superpoderes. Mas tentar prever como a sociedade, com o que a gente sabe hoje, poderia ter se transformado até uma certa época.

Dentre algumas ideias menos sérias (tipo o surgimento de cursos de Contabilidade especializados para traficantes de drogas), outras realmente mexeram com o meu imaginário, no sentido de se mostrarem, pelo menos, mais viáveis. Algumas delas seriam:

1) Em muito pouco tempo, teremos no Brasil um presidente de origem evangélica. Os desdobramentos desse ato podem ser muitos, desde o surgimento de uma polícia cristã urbana, que denunciaria os atos considerados ofensivos à moral, até o agravamento de conflitos sociais oriundos de discriminações.

2) O adultério não vai mais existir. Não como crime, pelo menos. (Acho que já não é mais, mas vocês entenderam, né) As pessoas terão relacionamentos abertos, em que flertar, sair e dormir com outros parceiros não vai ser visto como traição. Talvez exista algum código não oficial de conduta, tipo, cada pessoa pode ter relacionamento com outras três sem que isso seja considerado errado. Logicamente, muita gente ainda vai se casar e prezar por um relacionamento sério e a dois, mas muitos na prática vão só tratar o marido ou a mulher como o parceiro nº1.

3) Pornografia vai ser a nova onda, estilo seriados americanos. Já está disseminada meio que de forma velada e o que mais se vê na tv é sexo. Não vai demorar até que o tabu caia e os filmes pornô hardcore saiam do armário e, com ele, 90% dos homens (e muita mulher também).

4) O mundo do futebol vai virar uma putaria (até teria a ver com o item 3, né?). O que eu quero dizer: a geopolítica do futebol vai ser bagunçada com a rearrumação da economia. Vai ter muita gente, muita, torcendo pra grandes times europeus no Brasil e, em contrapartida, um movimento de uma galera acompanhando muito o futebol brasileiro (e sulamericano, caso a economia ajude).

Opa, peraí. Esse último não tá tão longe da realidade. E é dele que eu quero falar. Cara, não sei se tô velho e chato, mas não consigo deixar de ficar surpreso ao ver como consumimos futebol estrangeiro por aqui. A apresentação do Neymar ao Barcelona, em outros tempos, seria uma mera notícia do jornal do dia seguinte, hoje tem acompanhamento em tempo real em TV aberta. É claro que hoje em dia a mídia tá em tudo quanto é lugar, não me importo com isso. Mas acredito que isso venha trabalhando para que, aos poucos, os clubes europeus não sejam um complemento dos times brasileiros. Sejam rivais. Não no sentido de que eu torço pro Flu, logo quero que o Chelsea exploda. É mais algo como "sou milanista, na Itália e no Brasil".

Nunca tive acesso à tv por assinatura, então sempre acompanhei futebol europeu como dava. Comprava o Lance! às segundas pra ver os resultados do Campeonato Espanhol, saber como o Valencia - time pelo qual adquiri simpatia assistindo à Liga dos Campeões pela Rede TV! - tinha se saído. Ninguém que eu conhecesse sabia bem quem era o Mendieta, por exemplo. Também poucos deviam conhecer o saudoso português Luís Boa Morte, dentre outros nomes do futebol europeu. Hoje, sem zoeira, é fácil ter acesso a qualquer tipo de informação sobre esses caras.

Mas que fique claro: eu ainda estranho essas pessoas que torcem muito por um time europeu, mas não acho errado. Pelo contrário, acho que essas barreiras têm que cair mesmo. Países e continentes são meras linhas imaginárias, não vejo porquê haver tanta divisão ideologicamente falando (não no futebol). Óbvio que essas barreiras estão caindo não porque o "primeiro mundo" resolveu ser legal, mas porque a cultura do consumo ajuda a diminuir essas diferenças. Você, torcedor do Flamengo, não acha que a Adidas resolveu fazer esse investimento todo porque o time é muito bom, né? Mas enfim, quanto mais a informação circular, melhor. Talvez um dia exista um campeonato mundial de clubes em que realmente estejam os melhores do mundo. Em que, por exemplo, Bayern de Munique e São Paulo sejam rivais.

Essas mudanças podem ainda não estar perto, mas também não estão tão longe. Na música, por exemplo, artistas que não cantam em inglês e em ritmos pouco conhecidos no exterior podem fazer sucesso (Assim você me mata no estilo de gangnam). Mas a princípio, peço pouco: só sonho com o dia em que eu possa comprar uma camisa em um site alemão com frete grátis e que chegue aqui em dois dias úteis.

30 de mai. de 2013

Não expulsa as invejosas



Bom, antes de mais nada, gostaria de deixar só alguns avisos.

1)Eu sei que nossos fãs estão ávidos por isso, mas este não é um retorno oficial do Ecos do Maraca. É como aquela sua banda favorita que tinha acabado há uns 10 anos e agora resolveu voltar só pra fazer uns showzinhos caça-níquel. É isso.

2)Como o Maraca vai voltar, nada melhor do que retomar um pouco os trabalhos aqui. É, mas da mesma maneira que o Maraca que a gente conhece não existe mais, talvez o Ecos do Maraca gostoso de ler acompanhado de Fofura e Coca-Cola talvez não exista mais. Hoje, tá todo mundo bem empregado, gordo e com responsabilidades. Primeiro a grana, depois a diversão. Aliás, falando em grana e em estádio, sou totalmente a favor de negociar os naming rights do blog. Algo como “Ecos do MaracaNike”, por exemplo, soa justo pra mim. Podemos colocar os números na mesa?

3)O termo blogspot parece algo como “486 com Windows 95” pra mim. Vamos lá, tem alguma plataforma mais agradável para os nossos milhões de leitores?

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Agora vamos ao que interessa. Como todos vocês sabem, ontem foi um dia glorioso para o futebol brasileiro. O Botafogo venceu , Vasco e Flamengo foram varridos pra fora do estádio, até o peçonhento Boca Juniors – que morreu igual barata, só depois de muito esforço – levou um chute na bunda. Mas é claro que o resultado que marcou a noite foi que o Fluminense perdeu. O FLUMINENSE PERDEU, GRAÇAS A DEUS. Óbvio que o Facebook entupiu de piadas, o Salgueiro achou o enredo do carnaval do ano que vem e etc. Esse sentimento de que um título do Flu na Libertadores seria insuportável me fez pensar: é preciso ser invejoso pra ser um torcedor de verdade?

Sempre prezei pela moral e os bons costumes, nunca fui de odiar meus rivais. Futebol é uma coisa muito pequena pra definir minha opinião sobre um grupo de pessoas. Por que eu deveria odiar alguém só porque ele tem uma outra preferência? Por certas vezes, até torci para o Vasco ou Fluminense. Mas sério, só de pensar no Fluminense – ou no Galo – como campeão sul-americano, quiçá mundial...não, melhor não pensar. Eu até acho que são bons times e merecem, mas não dá. Isso significaria que um deles teria uma Libertadores e o meu time, não. E antes que venham dizer que se for por isso eu deveria ter inveja do América, que tem mais títulos que o Botafogo e blablabla, o que eu mais vejo são justamente flamenguistas loucamente comemorando a eliminação do Flu. Isso me fez pensar: será que o certo é invejar?

Qual o sentido de se torcer pra um time se você não se importa que ele perca e pior, se aqueles que mais são responsáveis pelas suas derrotas saírão vencedores em cima do seu fracasso? Futebol – e qualquer esporte – é rivalidade. Não é bom senso. A lógica é simples: tudo que vai, volta. Quando o Botafogo foi campeão carioca, o que mais teve foi gente menosprezando o título. Mas certamente se algum dos outros três grandes tivesse vencido a competição, a torcida encheria o peito pra dizer que está acima dos rivais. Para falar a verdade, nem me incomodei. É sadio. Não é legal poder encerrar qualquer discussão mandando a pessoa tomar no cu e simplesmente soltando “você não pode falar nada”? Meu pai, por exemplo, NUNCA reconhece os feitos dos rivais: se o Flu ganha, foi porque o adversário era fraco. Se o Bota perde é porque estava desfalcado. Nunca, nunca, um rival tem mérito na conquista. Torcer não seria isso? Se você acha que essa jornalistada que você vê na TV parece super imparcial, acredite: no fundo eles querem que o Mengão ganhe e o Flu tem mais é que se fuder.

De agora em diante, decidi que não vou mais expulsar as invejosas. São a essência de se torcer. Uni o pensamento de dois filósofos e montei minha própria teoria. O primeiro deles, Sócrates, diz que é pior cometer uma injustiça do que ser injustiçado, “porque quem a comete transforma-se num injusto e quem a sofre, não”. O segundo filósofo, Túlio Maravilha, diz que “o perdedor justifica e o vencedor comemora, é isso que nós tamo fazendo aqui”. Bom, invejar uma pessoa é ser injusto, não? Logo, quem inveja uma pessoa comete uma injustiça. Invejar é pior do que ser invejado, certamente. Mas tá tudo bem. Resumindo: não terei problema algum no fim do ano quando meu time for campeão de tudo. Invejar é do jogo.

PS: Para quem não conhece o Canhoto, seus textos são mais ou menos como os de Rica Perrone: não precisa fazer sentido. Mas olha lá, não é porque eu tolerei a inveja no futebol que é pra você chegar no trabalho e criar intriga pro seu chefe, almejando aquele cargo do coleguinha que você inveja. Não faça isso. Ou pelo menos, se fizer, coloque a culpa no Félix.