1 de jul. de 2008

Eu acredito.




As crenças mais inabaláveis de que se tem notícia baseiam-se em fé, nada além da fé. Ainda que haja inúmeros motivos racionais que levem a determinada conclusão, não é o caminho lógico que percorrem as crenças de um apaixonado torcedor de futebol. Ainda que ele se rodeie de estatísticas, de números, de dados, não é isso que o move. É outra coisa, vinda sabe-se lá de onde, que faz o coração pulsar mais forte em momentos decisivos, que faz aflorarem as lágrimas e o riso, o silêncio e o grito. Uma fé inabalável que não cai diante de quaisquer tabus, secações, probabilidades ou óbvios ululantes. Pelo contrário, ela se fortalece com isso.

É por isso que cantam mais alto os torcedores do Flu, num simples jogo treino. É por isso que, espontaneamente, surge entre eles o inconfundível grito, eloqüente em sua simplicidade: “eu acredito”.


É o inexplicável que permeia o futebol que faz desse o esporte mais amado do mundo, que faz dele a metáfora tão perfeita e fiel da vida. Apenas em jogos épicos como os protagonizados pelo tricolor o imponderável da vida se traduz. Só um gol aos 46 do segundo tempo faz a vida explodir no peito tão intensamente num único segundo.

E é esse inexplicável, esse imponderável, essa vida explosiva e intensa que se adivinha guardada nos peitos de cada tricolor do mundo. Tricolores que, ansiosamente, de coração pulsante e valente, aguardam. Esperam.


A tradução perfeita da vida: golpes inesperados podem nocautear qualquer um, e é preciso extremo auto-controle e muita força de vontade para se recuperar deles.

O Fluminense tomou quatro gols no primeiro tempo. Esteve irreconhecível, sem combate, sem a vibração que lhe foi peculiar e que credenciou-o de maneira tão indefectível para essa final de Libertadores. O gol no segundo tempo refletiu parcial poder de reação. Mas esse poder será mais evidente e mais contundente quarta-feira, no jogo de volta, onde a vida transbordará aos borbotões pelas arquibancadas do Maraca, e a crença inabalável, maior que os 80 mil torcedores presentes – fisicamente –, conduzirá o tricolor – por mares revoltos, não há duvida – ao cais vitorioso.



E não venham os secadores de plantão dizer que foi soberba, que se repetirá o Maracanazzo protagonizado por Cabañas. Em nenhum momento o Fluminense desprezou a LDU – nem mesmo Renato Gaúcho, notório fanfarrão, que tem se mostrado mais reservado ultimamente no que se refere a fazer comentários específicos acerca de seus adversários.


O Fluminense perdeu em Quito porque foi pior. Porque esteve desorganizado, porque foi traído pela altitude, porque não soube conter Guerrón. Qual a dificuldade em reconhecer isso? Porque há uma necessidade de se buscar motivos ocultos, razões mais profundas e menos óbvias para o que está na nossa frente?


Portanto: o Fluminense perdeu porque foi pior. O que, forçosamente, não deixa de conter certa dose de esperança para o jogo do Maraca. O Flu não perdeu porque o time da LDU é superior. O Flu perdeu porque errou, e não soube lidar com esses erros. Caso corrija essas falhas para o jogo de quarta, o tricolor carioca tem plenas condições de fazer o resultado de que precisa.


Acreditando – sempre – nisso, também cabe recomendar a esses secadores que não incorram no erro de dizer que o Flu chegou aqui “apenas” por sorte. Renato Gaúcho definiu bem: sorte está aliada a compentência.


Então, por favor, não me venham com a pequeneza de reduzir os feitos do Fluminense ao acaso. Ninguém faz três gols na poderosa defesa do São Paulo por sorte. Ninguém empata com o Boca em Buenos Aires por sorte. E, certamente, ninguém bate o atual campeão da América por 3x1 casualmente. O tricolor jogou o futebol mais visceral, mais apaixonado, mais verdadeiro da Libertadores. E não será uma partida infeliz que mudará isso.




Ademais, o tricolor irá se redimir no Maraca. Porque está imbuído com a fé de seus torcedores. Que acreditam. A torcida é parte integrante do tricolor; está muito além de mera motivadora. O Fluminense é sua torcida. Muitos torcedores, de muitos times, torcem da Boca pra fora. Mas os torcedores do Flu não.

Porque torcer para o Flu não é uma mera característica, não é apenas um adjetivo para esses torcedores. Ser Fluminense é substantivo, é intrínseco à própria substância do torcedor, faz parte de seu ser, é coisa de âmago, de cerne, de alma. O escudo tricolor, do lado esquerdo do peito, não protege o coração: ele é o coração.

Eu sou Fluminense. Eu acredito.


Se não é provável, se dizem que é impossível, se ninguém mais acredita... eu acredito.

Se as chances estão contra nós, se estaremos contra tudo e contra todos... eu acredito.

Se somos apenas nós e o Fluminense, mais ninguém a favor... eu acredito.

A análise tática, a probabilidade matemática e a estatística fria dos números não podem medir o tamanho do ímpeto tricolor.
Tem algo nesse time do Fluminense que vai além da (des)organização tática de Renato Gaúcho, que vai além da justiça do time mais bem armado, que vai além dos tabus, tradições e estatísticas. Que vai além da descrença.
O time do Fluminense é maior que isso tudo, ele ganha numa Justiça Divina do que luta mais, do que morre e renasce das cinzas, do que tem um Coração Valente que nunca pára de pulsar. Do que acredita. Numa crença que move montanhas, mares, são paulos e bocas; que muda a lua de lugar só pra iluminar o time; que faz corações pararem e voltarem a pulsar. Corações que, mesmo que feridos, ainda pulsam.

Eu sou Fluminense. E, apenas por isso, eu acredito.

14 comentários:

Canhoto disse...

Não acho que seja tão difícil assim, nem que esteja ocorrendo algum tipo de corrente que queira convencer as pessoas de que é impossível.

A verdade é que o Flu já fez de tudo nessa Libertadores, então fica difícil de duvidar de qualquer coisa que eles precisem. Inclusive se tivesse sido 4 a 1, eu manteria essa postura.

Acho que o Flu leva, na prorrogação ou no tempo normal com cagada incluída.

Anônimo disse...

Acreditamos todos, Gábi. Saudações em preto, branco, vermelho, verde e grená.

Rodrigo Lois disse...

Como já havia comentado com Gabriel, companheiro de mesa, acredito mais num 2 x 0 com um final histórico para o FH do que num show com o placar de 3 x 0. Boa sorte para o Fluminense!

Felipe Schmidt disse...

Também não acho tão impossível fazer 2x0 na LDU. Acho até que as pessoas estão tornando a tarefa mais hercúlea do que realmente parece. E também acho que, mesmo sendo possível, não vai ser nada fácil.

A LDU não é tão forte quanto Boca e São Paulo, mas tem um time bom, com jogadores velozes e talhados pra jogar no contra-ataque. Tudo bem, a defesa e o goleiro são pouco confiáveis, mas ainda assim experientes.

Enfim, pode dar Fluminense, mas não será tão fácil quanto alguns pensam e, se der, não será algo tão épico. O título sim, não o resultado em si.

Mas "Gab", o Renato Gaúcho tá fanfarrão sim...

James M. Barrie disse...

Cara, será épico sim.
Fico em dúvida se a mídia tá ou não tornando a tarefa mais difícil do que realmente é...
Mas será duríssimo.
Fazer dois ou três gols da LDU não acho que seja tão difícil. A defesa deles realmente não é boa, se o Flu jogar em cima consegue fazer, ainda mais que, a cada gol feito, a confiança aumentará.
Tenho medo de:
1. Contra-ataques. O time deles é muito veloz. A questão do Guerrón x Júnior César é complicada. Acho que, como a iniciativa é do Flu, será o Guerrón que ficará meio preso à marcação tendo que subir com cautela, pra não deixar uma avenida pro Juninho.
Mas, ainda assim, a LDU é um time veloz e efetivo, e tenho medo que o Flu arregace demais a defesa e fique a perigo nos contra-ataques. Ok, não se pode entrar com cautela, com medo de contra-golpes... mas é algo um pouco preocupante.
2. Acomodação. Vai que o Flu faz, sei lá, dois gols no primeiro tempo e um no começo do segundo? Não é tããão provável, mas também tá longe de ser impossível. Se algo assim acontecer, tenho medo de que o time recue um pouco e tome sufoco da LDU. Como já dito, a LDU tem um ataque forte.

E, Flip, me diga quais foram as declarações fanfarronas do Renato Gaúcho desde o (extremamente oportuno) "Boca, muito prazer, Fluminense"?

Felipe Schmidt disse...

Várias, cara. Que eu lembro agora: "Agora eles que vão ter que se preocupar com a gente" (e o Flu, não vai se preocupar com eles não?). Mas tem outras, principalmente no pós-jogo, ele falou umas fanfarronices sim, procura só.

Cara, fazer 2x0 na LDU não é épico. O título vai ser, mas o resultado em si, não é tãããão impossível de acontecer.

Anônimo disse...

"Ser Tricolor é brincar com o impossível e acreditar no improvável!"

EU ACREDITO

Anônimo disse...

Eu acredito que o Flu ganhe o título.

1° joga em casa, e sempre mostrou muita força no Maraca.

2° tem mais time. Não precisa nem comentar.

3° Já possui grandes feitos na competição e moral é o que não falta.

O único adversário real do time é ele mesmo.

James M. Barrie disse...

Não é tãããão impossível, mas é foda.
Como eu falei, a grande preocupação, pra mim, não é conseguir fazer gols. É difícil, mas o Flu tem jogadores de definição, com habilidade mais do que suficiente pra vencer a fraca defesa da LDU pelo menos duas vezes.
O grande problema é conseguir não levar nenhum gol.

Quanto a essa declaração do Renato, é forçação de barra dizer que é fanfarronice.
Ele fez apenas uma constatação: de fato, a preocupação maior é da LDU com o Flu, e não vice-versa, no sentido de que a LDU vai jogar na defesa e ficar no contra-ataque, e o Flu vai partir pra cima.
Isso se reflete no duelo do Guerrón e do Júnior César: como eu falei, o equatoriano que vai ter que ser mais cauteloso nas subidas ao ataque, não o Juninho.

Anônimo disse...

Quanto ao Renato, o que ele tem feito não é fanfarronice, porra, o cara, sem titulo nenhum, levou o time pra final da libertadores, vencendo o boca e o são paulo, ele pode ser um pouco arrogante.

Quanto ao chamado milagre, dizer que é impossível só está encentivando a torcida e o time. No maracanã, com esse fluminense que temos visto na hora do aperto, o impossível tá quase virando provável.
E além do mais, com Nelson Rodrigues se levantando do túmulo e toda a emoção dos posts do Gabriel, eu acredito.

Etchatz disse...

Não acho vantagem jogar o segundo jogo de um mata-mata em casa. O primeiro jogo acontece seguindo a normalidade de um jogo qualquer, como de um campeonato de pontos corridos, com o mandante buscando a vitória, o habitual. Geralmente o visitante perde, visto a diferença que faz o mando de campo.

Porém a segunda partida se dá totalmente em função do resultado do primeiro jogo. Quem tem que reverter uma vantagem joga no limite, sem poder errar, enquanto que seu adversário só vai na boa.

Porém, jogar a segunda em casa sem a preocupação dos gols fora como critério de desmpate e com a prorrogação é uma considerável vantagem, que some em caso de decisão por pênaltis.

Bem, toda essa tese pode não valer de nada, visto que se trata de futebol. Só escrevi esse comentário por satisfação pessoal, me sentir um comentarista de canal de esportes, que vive nessa ladainha.

Afinal, dizem que o futebol é a coisa mais importante dentre as de menor importância. Apesar de eu não concordar.

James M. Barrie disse...

Thiago falou, falou, e não disse nada.
Continua assim e tu vai pro Arena SporTV, ahhaha.

Zueira, lá tem até uns que prestam.

Aliás, hoje seria bastante útil a regra do gol fora de casa pro Flu.
2x0 daria o título.

Anônimo disse...

já vi o time
já vi a torcida
já vi a paixao.
e tou achando que esse flu vai ser campeao.
e vou torcer
e vou gritar
e acreditar
hoje me visto como todo um tricolor.

EU ACREDITO!

Anônimo disse...

Ele acreditoooooooou!