Terminada a primeira fase da Taça Libertadores da América, chega a hora do mata-mata, onde os fracos não têm vez. Melhores campanhas têm pouca influência aqui. Ganha o time de mais coração e mais raça, o time com poder de decisão, aquele que não amarela na hora do "vamo ver". Analisemos os confrontos brasileiros nas oitavas da Liberta:
- O Flu vai pegar o Nacional de Medelín, time mediano que o São Paulo só suou pra vencer por causa da escalação excessivamente retranqueira do Muriçoca (o que mais poderíamos esperar?).
O time de Renato Gaúcho tem a melhor defesa da competição, feito alcançado sem a necessidade de se abrir mão do poder ofensivo - o ataque também consta entre os mais positivos.
Thiago Silva atravessa excelente fase; Conca há bastante tempo vem jogando muito bem (e, quando sua atuação não é das mais brilhantes, ao menos ele figura entre os mais esforçados em campo). O mesmo não se pode dizer de Washington, que não marca há mais de um mês (desde o jogo contra o Vasco, na primeira fase da Taça Rio, em que fez gol na vitória de 2x1). Não creio que o desânimo pelo pênalti perdido na final contra o Botafogo atrapalhe o Coração Valente. Ao contrário, acho que irá até motivá-lo a sair de uma vez por todas dessa fase ruim.
Apesar da derrota definitiva no caso Leandro Amaral, o Fluminense ainda contará com uma dupla de ataque de peso, uma vez que Dodô está de volta.
Tendo isso em mente, não é demais arriscar que o tricolor carioca pode conseguir um bom resultado já na partida de ida, na Colômbia, assegurando um jogo tranqüilo no Maraca.
Palpite do blogueiro tricolor: meu Fluzão se classifica sem tanta dificuldade, quem sabe até com duas boas vitórias.
- Já o Fla "deliberadamente" tomou o caminho mais fácil, digamos assim, e "escolheu" não golear o Bolonhesa, com o intuito de evitar uma desgastante viagem ao México.
Clássica cena de filmes trash de terror: o cara correndo no escuro, olhando pra trás, tentando se certificar de que realmente escapou de seu perseguidor; quando vira uma curva e olha pra frente, encontra o tal perseguidor encarando-o. O adversário do Fla é o América do México.
Trata-se de um time razoável, e a longa viagem intercalada com as finais do Carioca pode ser prejudicial ao rubro-negro, que passou por situação semelhante ano passado contra o Defensor, e acabou sendo eliminado (e vale lembrar que o jogo de ida era logo ali, no Uruguai).
Além disso, há a saída de Joel: a entrada de um novo técnico entre a primeira e a segunda partida das oitavas pode ter efeito negativo sobre a equipe da Gávea.
Ainda assim, o elenco rubro-negro é imensamente superior ao do time mexicano, que só conseguiu vitórias apertadas em casa e perdeu todas fora.
Palpite do blogueiro: o jogo de ida será duro, e o rubro-negro pode vir desgastado da difícil partida contra o Botafogo, podendo até ser derrotado.
Entretanto, provavelmente conseguirá bom resultado no Maraca, com o apoio da massa rubro-negra, e passará à próxima fase.
- O abissal tropeço do Cruzeiro contra o Potosí, na última rodada da primeira fase, custou-lhe caro: dono de excelente campanha até ali, podendo inclusive garantir o primeiro lugar geral, o time mineiro deu mole e foi goleado pelo adversário nas alturas bolivianas, ficando apenas com a quinta melhor campanha na primeira fase da competição.
Some-se a isso o intrincado Grupo 3, em que foi acirrada a briga entre Atlas, Boca e Colo-Colo pela classificação, e o resultado é um tanto quanto desagradável: o Cruzeiro pegará o time argentino, atual campeão da Liberta, carrasco dos brasileiros, logo nas oitavas. Dois jogaços com resultados completamente imprevisíveis. Mas uma coisa é certa: a parada tá complicada pra Raposa.
- O Sumpaulo não vem jogando bem, isso é ponto pacífico.
Mesmo assim, o Muriçoca é um excelente técnico, e o time ainda conta com vários talentos. Se, por um lado, a campanha irregular na primeira fase e a eliminação do Campeonato Paulista possam ser preocupantes, por outro, servem para acordar o time e mostrar que ele não é tão forte como no ano passado.
O tricolor paulista enfrentará o bom time do Nacional, uma equipe que, jogando no Uruguai, pode dar muito trabalho - vide partida contra o Fla -; mas que, despojado do apoio da torcida e da catimba uruguaia, torna-se um time não tão difícil de ser batido (vide o jogo de volta contra o mesmo Flamengo).
Palpite do blogueiro: resta ao tricolor paulista, na sua retranca, arrancar um empate em Montevidéo, para que uma (bastante possível) vitória simples no Morumbi seja suficiente para a classificação. E é o que provavelmente ocorrerá.
- O Santos pega novamente o Cúcuta, reeditando os confrontos da primeira fase. Na Colômbia, o time de Leão arrancou um chocho empate em 0x0. Na Vila, o peixe suou para vencer por 2x1, num gol de sorte aos 43 do segundo tempo.
A má campanha no Paulistão, que acarretou sua eliminação precoce, antes das semifinais (ainda que o time tenho melhorado nas últimas rodadas), já denunciava a fragilidade da equipe. Time de elenco mediano e recheado de jovens, o Santos vem em busca de reforços há muito tempo, sem sucesso.
Palpite do blogueiro: o Santos é o time brasileiro com a maior probabilidade de pular fora da Liberta já nas oitavas. Ambos os jogos serão complicados; a classificação (de quem quer que seja) provavelmente será sofrida. Empate em 0x0 lá e empate em 1x1 na Vila - Cúcuta se classifica pelo gol fora de casa. Vai ser chatinho e truncado assim.
No geral, a perspectiva - pelo menos por enquanto - é boa para os times brasileiros, em especial para os cariocas, que (aparentemente) têm vida mais fácil nas oitavas. O melhor jogo - e também o mais difícil - obviamente será o do Cruzeiro. O primeiro confronto verdadeiro entre argentinos e brasileiros.
No fim das contas, nenhuma dessas análises importa realmente: mesmo que sejam opiniões com (algum) embasamento, mata-mata de Libertadores não admite previsões. É o lugar mais propenso a surpresas, onde qualquer vacilo pode ser fatal.
Tentar prever só serve pra papo em mesa de bar: os times têm que deixar de lado qualquer favoritismo ou análise pré-concebida e se concentrar no jogo.
Libertadores é foda.
A nós, meros blogueiros-torcedores-pretensosanalistas, restam não os ecos do estádio vazio do pós-jogo, mas os ecos futuros de um estádio expectante: o show tá começando.