3 de jun. de 2013

O mundo tá mudado



Os chamados (por mim mesmo) livros de ficção social sempre foram meus preferidos. Obras clássicas como 1984, de George Orwell, ou Admirável Mundo Novo, de Aldous Huxley, despertaram em mim o fascínio em imaginar como seria a sociedade no futuro. Durante os meus devaneios em tentar eu mesmo começar um romance, era nesse tipo de história que queria me espelhar. Não pensar no futuro como a era das espaçonaves, armas de laser e humanos com superpoderes. Mas tentar prever como a sociedade, com o que a gente sabe hoje, poderia ter se transformado até uma certa época.

Dentre algumas ideias menos sérias (tipo o surgimento de cursos de Contabilidade especializados para traficantes de drogas), outras realmente mexeram com o meu imaginário, no sentido de se mostrarem, pelo menos, mais viáveis. Algumas delas seriam:

1) Em muito pouco tempo, teremos no Brasil um presidente de origem evangélica. Os desdobramentos desse ato podem ser muitos, desde o surgimento de uma polícia cristã urbana, que denunciaria os atos considerados ofensivos à moral, até o agravamento de conflitos sociais oriundos de discriminações.

2) O adultério não vai mais existir. Não como crime, pelo menos. (Acho que já não é mais, mas vocês entenderam, né) As pessoas terão relacionamentos abertos, em que flertar, sair e dormir com outros parceiros não vai ser visto como traição. Talvez exista algum código não oficial de conduta, tipo, cada pessoa pode ter relacionamento com outras três sem que isso seja considerado errado. Logicamente, muita gente ainda vai se casar e prezar por um relacionamento sério e a dois, mas muitos na prática vão só tratar o marido ou a mulher como o parceiro nº1.

3) Pornografia vai ser a nova onda, estilo seriados americanos. Já está disseminada meio que de forma velada e o que mais se vê na tv é sexo. Não vai demorar até que o tabu caia e os filmes pornô hardcore saiam do armário e, com ele, 90% dos homens (e muita mulher também).

4) O mundo do futebol vai virar uma putaria (até teria a ver com o item 3, né?). O que eu quero dizer: a geopolítica do futebol vai ser bagunçada com a rearrumação da economia. Vai ter muita gente, muita, torcendo pra grandes times europeus no Brasil e, em contrapartida, um movimento de uma galera acompanhando muito o futebol brasileiro (e sulamericano, caso a economia ajude).

Opa, peraí. Esse último não tá tão longe da realidade. E é dele que eu quero falar. Cara, não sei se tô velho e chato, mas não consigo deixar de ficar surpreso ao ver como consumimos futebol estrangeiro por aqui. A apresentação do Neymar ao Barcelona, em outros tempos, seria uma mera notícia do jornal do dia seguinte, hoje tem acompanhamento em tempo real em TV aberta. É claro que hoje em dia a mídia tá em tudo quanto é lugar, não me importo com isso. Mas acredito que isso venha trabalhando para que, aos poucos, os clubes europeus não sejam um complemento dos times brasileiros. Sejam rivais. Não no sentido de que eu torço pro Flu, logo quero que o Chelsea exploda. É mais algo como "sou milanista, na Itália e no Brasil".

Nunca tive acesso à tv por assinatura, então sempre acompanhei futebol europeu como dava. Comprava o Lance! às segundas pra ver os resultados do Campeonato Espanhol, saber como o Valencia - time pelo qual adquiri simpatia assistindo à Liga dos Campeões pela Rede TV! - tinha se saído. Ninguém que eu conhecesse sabia bem quem era o Mendieta, por exemplo. Também poucos deviam conhecer o saudoso português Luís Boa Morte, dentre outros nomes do futebol europeu. Hoje, sem zoeira, é fácil ter acesso a qualquer tipo de informação sobre esses caras.

Mas que fique claro: eu ainda estranho essas pessoas que torcem muito por um time europeu, mas não acho errado. Pelo contrário, acho que essas barreiras têm que cair mesmo. Países e continentes são meras linhas imaginárias, não vejo porquê haver tanta divisão ideologicamente falando (não no futebol). Óbvio que essas barreiras estão caindo não porque o "primeiro mundo" resolveu ser legal, mas porque a cultura do consumo ajuda a diminuir essas diferenças. Você, torcedor do Flamengo, não acha que a Adidas resolveu fazer esse investimento todo porque o time é muito bom, né? Mas enfim, quanto mais a informação circular, melhor. Talvez um dia exista um campeonato mundial de clubes em que realmente estejam os melhores do mundo. Em que, por exemplo, Bayern de Munique e São Paulo sejam rivais.

Essas mudanças podem ainda não estar perto, mas também não estão tão longe. Na música, por exemplo, artistas que não cantam em inglês e em ritmos pouco conhecidos no exterior podem fazer sucesso (Assim você me mata no estilo de gangnam). Mas a princípio, peço pouco: só sonho com o dia em que eu possa comprar uma camisa em um site alemão com frete grátis e que chegue aqui em dois dias úteis.

30 de mai. de 2013

Não expulsa as invejosas



Bom, antes de mais nada, gostaria de deixar só alguns avisos.

1)Eu sei que nossos fãs estão ávidos por isso, mas este não é um retorno oficial do Ecos do Maraca. É como aquela sua banda favorita que tinha acabado há uns 10 anos e agora resolveu voltar só pra fazer uns showzinhos caça-níquel. É isso.

2)Como o Maraca vai voltar, nada melhor do que retomar um pouco os trabalhos aqui. É, mas da mesma maneira que o Maraca que a gente conhece não existe mais, talvez o Ecos do Maraca gostoso de ler acompanhado de Fofura e Coca-Cola talvez não exista mais. Hoje, tá todo mundo bem empregado, gordo e com responsabilidades. Primeiro a grana, depois a diversão. Aliás, falando em grana e em estádio, sou totalmente a favor de negociar os naming rights do blog. Algo como “Ecos do MaracaNike”, por exemplo, soa justo pra mim. Podemos colocar os números na mesa?

3)O termo blogspot parece algo como “486 com Windows 95” pra mim. Vamos lá, tem alguma plataforma mais agradável para os nossos milhões de leitores?

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Agora vamos ao que interessa. Como todos vocês sabem, ontem foi um dia glorioso para o futebol brasileiro. O Botafogo venceu , Vasco e Flamengo foram varridos pra fora do estádio, até o peçonhento Boca Juniors – que morreu igual barata, só depois de muito esforço – levou um chute na bunda. Mas é claro que o resultado que marcou a noite foi que o Fluminense perdeu. O FLUMINENSE PERDEU, GRAÇAS A DEUS. Óbvio que o Facebook entupiu de piadas, o Salgueiro achou o enredo do carnaval do ano que vem e etc. Esse sentimento de que um título do Flu na Libertadores seria insuportável me fez pensar: é preciso ser invejoso pra ser um torcedor de verdade?

Sempre prezei pela moral e os bons costumes, nunca fui de odiar meus rivais. Futebol é uma coisa muito pequena pra definir minha opinião sobre um grupo de pessoas. Por que eu deveria odiar alguém só porque ele tem uma outra preferência? Por certas vezes, até torci para o Vasco ou Fluminense. Mas sério, só de pensar no Fluminense – ou no Galo – como campeão sul-americano, quiçá mundial...não, melhor não pensar. Eu até acho que são bons times e merecem, mas não dá. Isso significaria que um deles teria uma Libertadores e o meu time, não. E antes que venham dizer que se for por isso eu deveria ter inveja do América, que tem mais títulos que o Botafogo e blablabla, o que eu mais vejo são justamente flamenguistas loucamente comemorando a eliminação do Flu. Isso me fez pensar: será que o certo é invejar?

Qual o sentido de se torcer pra um time se você não se importa que ele perca e pior, se aqueles que mais são responsáveis pelas suas derrotas saírão vencedores em cima do seu fracasso? Futebol – e qualquer esporte – é rivalidade. Não é bom senso. A lógica é simples: tudo que vai, volta. Quando o Botafogo foi campeão carioca, o que mais teve foi gente menosprezando o título. Mas certamente se algum dos outros três grandes tivesse vencido a competição, a torcida encheria o peito pra dizer que está acima dos rivais. Para falar a verdade, nem me incomodei. É sadio. Não é legal poder encerrar qualquer discussão mandando a pessoa tomar no cu e simplesmente soltando “você não pode falar nada”? Meu pai, por exemplo, NUNCA reconhece os feitos dos rivais: se o Flu ganha, foi porque o adversário era fraco. Se o Bota perde é porque estava desfalcado. Nunca, nunca, um rival tem mérito na conquista. Torcer não seria isso? Se você acha que essa jornalistada que você vê na TV parece super imparcial, acredite: no fundo eles querem que o Mengão ganhe e o Flu tem mais é que se fuder.

De agora em diante, decidi que não vou mais expulsar as invejosas. São a essência de se torcer. Uni o pensamento de dois filósofos e montei minha própria teoria. O primeiro deles, Sócrates, diz que é pior cometer uma injustiça do que ser injustiçado, “porque quem a comete transforma-se num injusto e quem a sofre, não”. O segundo filósofo, Túlio Maravilha, diz que “o perdedor justifica e o vencedor comemora, é isso que nós tamo fazendo aqui”. Bom, invejar uma pessoa é ser injusto, não? Logo, quem inveja uma pessoa comete uma injustiça. Invejar é pior do que ser invejado, certamente. Mas tá tudo bem. Resumindo: não terei problema algum no fim do ano quando meu time for campeão de tudo. Invejar é do jogo.

PS: Para quem não conhece o Canhoto, seus textos são mais ou menos como os de Rica Perrone: não precisa fazer sentido. Mas olha lá, não é porque eu tolerei a inveja no futebol que é pra você chegar no trabalho e criar intriga pro seu chefe, almejando aquele cargo do coleguinha que você inveja. Não faça isso. Ou pelo menos, se fizer, coloque a culpa no Félix.

2 de jul. de 2010

2014 é logo ali


"Agora vamo Argentina!"

Agora que a Copa acabou para o Brasil, fica uma dúvida: o que, afinal, é preciso para se sair vencedor e não parar nas quartas-de-final para adversários inferiores? Depois de duas experiências – completamente opostas – fracassadas, o futuro da seleção agora é uma incerteza, sem o técnico que a fez eficiente, mas também burocrática e sem opções.

Após 2006, chegou-se a um consenso: linha dura é a solução. Depois da baderna que se viu em Veggis e na falta de comprometimento de uma seleção cheia de craques, pensou-se que a concentração era o caminho. Veio Dunga, seu futebol de (bons) resultados e pouca empatia com a imprensa, a isolação em relação ao torcedor, o contra-ataque e o fim foi o mesmo: degola nas quartas-de-final.

Para 2014, vislumbra-se um horizonte de muitas opções talentosas do meio para frente, mas é preciso se desfazer de jogadores experientes que jogaram bem nestes três anos e meio sem sexo, digo, com Dunga? Júlio César vive fase espetacular e goleiros costumam atuar em bom nível até mesmo com idade avançada, Maicon parece incontestável e a zaga com Lúcio e Juan foi o setor mais injustiçado das últimas duas Copas, com atuações seguras que não foram capazes de fazer a diferença para o Brasil.

No fim das contas, Dunga trouxe algo de bom para o futebol brasileiro: mostrou o outro lado da moeda, afinal, vemos nesta Copa as vitórias anti-geniais, se assim se pode dizer. Só saudosistas não enxergam que preparação física e psicológica e equilíbrio defensivo estão garantindo os bons resultados, mesmo que causando a derrota de outro bom sistema defensivo. Assim, um técnico com mentalidade competitiva, como Dunga, mas com menos cabeça dura, seria o primeiro passo.

Considero o nome de Leonardo uma boa aposta. Já se viu com o próprio Dunga que iniciantes podem fazer bons papéis. E o ex-técnico do Milan me parece dotado do discernimento para fazer essa mescla. O trabalho no time italiano foi prejudicado pela humildade nos investimentos, mas talvez na Seleção, com um material humano (expressão adorada pelos técnicos) de grande qualidade, faça um bom trabalho.

Com relação aos jogadores, Dunga “pescou” bons nomes, que podem ter continuidade: Maicon, Daniel Alves, Ramires, Elano. Além, é claro, de incontestáveis como Júlio César e Kaká. Em 2014, alguns nomes virarão realidade, como Ganso e Philippe Coutinho, outros podem ser alçados à condição de grandes jogadores, como Pato, Hernanes, etc. Só não me venham com Felipe Melo!

Sei que neste ano aquela tradicional sensação de vazio após uma eliminação não foi tão forte, muito pelo desamor ao Dunga. Mas Copa do Mundo é Copa do Mundo e todo mundo quer ganhar. Imagine a festa no Maracanã com um título daqui a quatro anos...

Bom, antes de me despedir, gostaria de deixar algumas observações sobre essa eliminação do Brasil

1) O Brasil perdeu pra si mesmo. Não há nada que pareça mais arrogante que isso, mas não vi no time uma apatia típica de quem foi anulado, muito menos no time da Holanda essa superioridade. O que houve foi um desequilíbrio emocional impressionante. Pareceu-me que o gol de empate, por ter sido ocasionado por uma falha de comunicação, deixou os jogadores inseguros. Obviamente, a Holanda cresceu, mas o Brasil ainda criava suas chances. O segundo gol desmoronou completamente o emocional da seleção. Menos o do Felipe Melo, já que ele não tem emocional nenhum. Deve ter ficado imaginando as manchetes o chamando de “fodão” pelo passe para Robinho e, quando viu o cenário se inverter, desceu a porrada no primeiro que apareceu e foi para o vestiário sem a menor cara de arrependimento. Falhas bizarras de saída de bola e a lamentável cena dos jogadores brasileiros olhando a Holanda perder o que seria o terceiro gol mostram que a seleção não estava pronta para ficar atrás.

2) O primeiro tempo foi um desperdício. O Brasil mostrava entrosamento entre suas principais peças e faltava um toque a mais para que mais gols saíssem. Foi um desperdício porque, quando estávamos superiores, não soubemos matar como o time de Dunga se acostumou a matar. Geralmente, isso dá margem ao azar. E em Copa do Mundo, uma série de atributos têm de obrigatoriamente estar a seu favor: competência, talento, concentração, sorte. E a sorte não esteve com o Brasil. E com um lance, a Holanda entrou no jogo e o andamento todo se alterou.

3) Felipe Melo e Dunga. O primeiro me fez pensar no que acontece em sua cabeça. Fiquei me indagando se seria mais um caso do flamenguismo, uma doença que atinge pessoas ao redor do Brasil, algumas na infância, outras ao serem contratados para jogar por este time. Seus sintomas são a falta de caráter, a violência e a inclinação para o crime. No caso de Melo, mais conhecido como Felipe Merda por William Waack, a doença o faz perder o controle ao primeiro sinal de violência. Ele então começa a distribuir pontapés e só para quando recebe cartão vermelho, é substituído ou preso.

Já Dunga não pode ser tão criticado pelo jogo de seu time, que não saiu de suas características e,a bem da verdade, fez um bom primeiro tempo. No entanto, a falta de opções no banco e a demora em colocá-las para jogar são culpa exclusivamente do técnico, que se viu enrascado depois de sofrer o segundo gol. Na verdade, quando o Felipe Melo foi expulso nós já sabíamos qual seria o fim. Só não queríamos acreditar.

4) Mick Jagger, seu desgraçado!

De agora em diante, só existe uma cena que pretendo ver na Copa: “Ih, olha lá o Mick Jagger torcendo pela Argentina!”. Pronto, tenho certeza que estarei feliz.


14 de jun. de 2010

A Copa da Culpa

Max está no nível dos goleiros da Inglaterra

É comum ver os comentaristas/pitaqueiros por aí, na TV, no Orkut ou no Twitter, xingando muito os jogadores e apontando quem falhou para que um gol fosse sofrido. Acontece que nada aconteceria no futebol se não fossem as falhas. Imaginem: todos perfeitos, ninguém cometendo erros, até que teríamos de recorrer à justiça divina para decidir o vencedor. O que eu quero dizer com isso? Bom, às vezes os gols acontecem por um lance de talento que não foi combatido à altura, não necessariamente houve uma falha clara. Maaaas....existem casos em que o gol só se deu devido a uma falha específica e clamorosa. Às vezes, essa falha é geral, como uma linha de impedimento errada ou uma defesa esburacada. Mas quando essa falha é individual, haja saliva e caracteres no Twitter para se despejar as críticas aos incompetentes coitados. Os culpados.

Neste começo de Copa, o número relativamente grande de erros individuais que decidiram os (toscos) jogos tem me chamado a atenção. Ouso dizer que até agora essa é a Copa da Culpa. Muitos jogadores nem devem ter dormido tamanhas suas besteiras, pensando na culpa que carregam pelos resultados desfavoráveis. Algum matemático de plantão pode aparecer a qualquer instante me desmentindo e dizendo que na Copa de 34 houve sete frangos, três furadas e quatro escorregões que decidiram jogos. Outros podem dizer que nada se compara à culpa sentida pelo colombiano Escobar, em 94(quem o matou não deve sentir culpa). Mas não estou nem aí. Ou alguém vai dizer que não tem muita gente fazendo merda nessa Copa?

Eis as pixotadas:

Inglaterra 1 x 1 EUA : O chute de Dempsey foi despretensioso, tão escroto que o goleiro Green nem se preparou direito para defender. No fim das contas, o resultado foi brown pros ingleses, que só foram brancos e clássicos no uniforme, porque a qualidade do futebol foi black como o Heskey.

Argélia 0 x 1 Eslovênia : Primeiro, o atacante e pensador Ghezzal, usando a lógica do “Copa do Mundo é pelada” esticou o braço pensando que arrancaria gargalhadas dos peladeiros. Como não é bem assim, ele, que já tinha amarelo, foi expulso. Com um a mais, a Eslovênia, meio que por obrigação, foi à frente e no chute de Koren, o goleiro Chaouchicha pensou que poderia encaixar uma bola em diagonal. Gol dos eslovenos e derrota sob os olhares de Zidane. Essa falha foi menos feia que a do Green, mas pelo menos o gol que o inglês tomou foi incompetência somada ao azar, enquanto o argelino foi o único culpado pelo gol sofrido.

Sérvia 0 x 1 Gana: Tudo ia bem, quer dizer, mal, jogo horrendo, quando, seguindo a teoria do pensador Ghezzal, cujo axioma você já leu no último parágrafo, o esperto Kuzmanovic colocou a mão na área, como se não houvesse câmeras, torcedores nem regras, ou seja, estava em uma pelada. O maluco lá de Gana bateu o pênalti e fez.

Holanda 2 x 0 Dinamarca: Vi mais ou menos 50 segundos desse jogo. Durante esse tempo, a Holanda fez um gol. Quer dizer, ganhou um gol. Poulsen e Agger “tabelaram” dentro da área e marcaram pra Laranja Mecânica. Como eles jogam pela Dinamarca, creio que nenhum deles quer levar a culpa. Na verdade, a culpa é do Poulsen que, dentro da área, cabeceou pro bolo.O Agger só tomou a bola nas costas (rá), nem viu nada. Pior de tudo: o cara ainda saiu rindo.

Mas, pra falar a verdade, isso tudo só mostra uma coisa: a Copa está uma bosta. Jogos arrastados, times sem criatividade, dificuldades absurdas pra fazer um gol. Sim, há bons sistemas de marcação, mas no dia que a marcação sobressair ao ataque não vou fazer uma ode à marcação. Como no basquete, a defesa ganha campeonatos, enquanto o ataque ganha jogos. Mas veja bem: uma coisa complementa a outra, não é um ou outro. Não me chamem de bichinha ou viado, mas eu quero é ver o jogo lindo, da glória, não o da culpa.



12 de jul. de 2009

Pelo diploma de entrevistado!

Imagina eu!

Que o futebol é cheio de clichês qualquer um sabe. Uma pessoa que não é chegada ao esporte sabe a fama de maus “respondedores” que os atletas têm e até entende a piada, mesmo que não saiba se o Fluminense é preto e branco ou é o Flamengo que é tricolor.

Costumamos ouvir esse papo de que os jogadores respondem assim, tipo qualquer coisa, porque as perguntas dos repórteres são igualmente de baixo nível. Sim, assumamos isso, desde antes de realizar os questionamentos, já se pensa que o jogador não vai ter nível para responder mais do que frases decoradas.

A intenção aqui não é dizer que isso piorará com o advento da não-necessidade do diploma para exercer a atividade jornalística, mas que tal se brincássemos com alguns lugares-comuns das entrevistas futebolísticas hoje em dia?

Antes de tudo, deve-se fazer uma referência. Trata-se do grandioso Rasheed Wallace, jogador da NBA que, fulo da vida, respondeu a todas as perguntas de uma determinada entrevista coletiva após um jogo, com a célebre frase “Both teams played hard”, em bom português, “Os dois times jogaram duro”, típica frase de quem só repete palavras. Para você ver como não é coisa só nossa.




Como não são todos que têm essa veia irônica exacerbada, deixa que a gente mesmo faz o que você queria. Dar a resposta certa!

Caso 1: Time entra em campo. Repórter pega o primeiro jogador que vem puxando a corrente, ou o primeiro que teve saco para parar e manda: “E aí, o time vem pra ganhar?”

Resposta real: Com certeza, sabemos da importância dos três pontos, o time vem forte e vamo lutar pra sair com a vitória.

Resposta sincera do jogador: É,né. Se não formos, eu rodo.

Resposta desejada: Não! Até por isso a gente nem treinou essa semana. Íamos todos os dias para o clube e ficávamos jogando cartas. Esse negócio de treinar só serve para a gente ficar suado, porque a gente vai entrar pra perder mesmo...

Caso 2: O time vai para o intervalo tomando um sapeca-iaiá por 3 a 0. “Dá pra virar?”

RR: Com certeza, não tem jogo ganho, agora é voltar pro segundo tempo e ver o que o treinador tem pra falar.

RSJ: Dar não dá, mas não posso dizer isso porque senão eu rodo.

RD: Não!É melhor pensar no próximo jogo, esse tá perdido, inclusive quem tá vendo em casa pode ir desligando a televisão, se arrumando pra sair, porque a gente não vai virar isso aqui não!

Caso 3: Volta para o segundo tempo. “O que o treinador falou no vestiário?”

RR: Falou para a gente jogar mais em cima, tentar mais o gol, in the medium, from behind, the left e the right.

RSJ: Olha, pra te falar a verdade, eu nem tava prestando atenção no que ele tava falando. Mas pra não rodar, ele deve ter falado isso aí mesmo...

RD: Falou que o time está jogando muito recuado, necessitando assim de um meia armador que leve a bola da defesa até o ataque e chame os companheiros para avançar. Assim, o time sai do seu campo e passa a pressionar o adversário. Devemos explorar o lado direito, onde temos Nelsinho, nosso jogador em melhor forma, e explorar o mau momento do Pedrinho, que joga pela esquerda do time deles. Ah, e pra isso, ele vai tirar o Zezinho, que não tá jogando merda nenhuma. Com isso, Huguinho será o responsável por conduzir o time desta forma. Já a defesa vai atuar com três zagueiros, sendo que na sobra ficarei eu, que tenho mais condições técnicas do que o Pedrão e o Nelsão. Aí...(resposta interrompida para que se pudesse reiniciar o jogo)

Caso 4: No primeiro tempo, o goleiro do time falhou bizarramente ao socar a bola na cabeça de um companheiro, sofrendo o gol. Pergunta: “O que houve ali naquele lance?”

RR: Infelizmente, teve uma falha de comunicação ali, ele não me viu e infelizmente o gol saiu. Infelizmente, a gente vai ter que consertar agora e partir pra cima, infelizmente.

RSJ: Não sei, mermão. O que eu sei é que esse viado tá falhando todo jogo, porra, como ele não me viu com essa porra desse moicano vermelho que eu tô usando? Ele é daltônico? Sabe, às vezes a gente cansa dessa porra!

RD: Simples, juntou um bosta como eu com um bosta como ele, deu nisso. Os reservas são bem melhores que a gente.

Por último...

Caso 5: Time é campeão. Na hora de falar da campanha e do grupo, todo mundo é bom.

RR: Esse time é um grande grupo, grandes homens, de família. Não tem nenhum moleque aqui não. Esse título vai também para Deus, que sempre me ajudou e para a nossa torcida, que sempre teve com a gente. Vai também para as crianças, para o Michael Jackson e para o Bush, e eu também queria mandar um beijo pra minha esposa....

RSJ: Porra, tem uns caras que são foda. Não merecem, não. Eu lá querendo me concentrar e os caras cheio de mulher no quarto. Porra, tem que pensar no jogo. Eu a essa hora to arrumando meu uniforme, passando o ferro. O grupo é uma merda, demos sorte de eu ser tão bom.

RD: É campeão, porra!

Às vezes, os jogadores misturam os estilos de resposta.....



11 de abr. de 2009

Gente estranha


E pra comemorar minha aposentadoria, orgia na minha casa!

Estranhos são os outros, não sei de nada disso. É o que costumamos pensar quando encaramos algum problema fora do comum, quando o comum significa a cartilha de bom comportamento do homem moderno. Eu, que sou moderno mas não sou sério, vi esse caso do Adriano e pensei: o ser humano é realmente algo incompreensível.

Não é comum mesmo um jogador de futebol alegar problemas de depressão quando sua carreira é um sucesso, quando se tem vários prêmios individuais, reconhecimento. A explosiva combinação entre vícios e poder ter vícios fez de Adriano um refém. É bom lembrar que esse “poder ter vícios” é apenas de ordem financeira.

Muitos dizem que ele não teve educação, preparo. Ok. Mas no momento seguinte, vem a tese de que isso advém da sua criação no morro, Vila Cruzeiro. Será mesmo? Outros falam que quem tem tudo na mão não pode ter depressão, que é coisa de fresco. Será mesmo? Só chego à conclusão de que tudo é tão específico que só falando com o psicólogo do Adriano pra saber mesmo.

Aliás, este é apenas um post-abre-debate. Não tenho conhecimentos para dar pitacos, e não quero encher o saco com minhas divagações esquerdinhas. É como um clamor por alguma opinião. Por enquanto, o filósofo Adriano está no mesmo patamar do revolucionário Kurt Cobain ou do malucão Joaquim Phoenix ou de Vincent Van Gogh. Se Van Gogh só foi famoso depois de sua morte, Cobain e Phoenix são exemplos de que fama não é exatamente sinônimo de “tudo-como-deve-ser”. Depressões, maluquices, insatisfações, tudo inerente a quem tem sua vida virada de cabeça pra baixo por, quem diria, a mídia. Ou qualquer outra coisa, os malucos são eles e eles que sabem seus problemas.

A questão é: pare e pense...dá pra entender?

Peraí que eu tô refletindo


Adriano tem dinheiro, tem fama, tem prestígio, talento, “conhece” muitas mulheres e passa por isso. Eu infelizmente não tenho nada disso( a parte das mulheres eu não falo nada, pois não quero perder uma parte preciosa dos meus cerca de oito leitores), então não posso dizer como é ter tudo isso e entrar numa depressão.

Mas juro que quando chegar lá eu conto!

27 de dez. de 2008

Ecos do Maraca/JS Online Entrevista: Luizinho Rangel


Um 2008 sem títulos, mas de muitas conquistas para os juniores do Bota

Rodrigo Paradella – rparadella@jsports.com.br

 

 

 

 

 

 

 

 

Apesar da falta de títulos, o ano foi de conquistas para os juniores do Botafogo. Este é o balanço que Luizinho Rangel, técnico da equipe júnior do Alvinegro, faz da temporada. Em entrevista ao JS ONLINE, o treinador falou um pouco sobre o ano do clube nas divisões de base.

Segundo Luizinho, o ano foi, principalmente, marcado por evoluções da equipe nos campeonatos em que disputa. O quarto lugar no Campeonato Carioca, aparentemente um desempenho apenas razoável, foi celebrado devido à evolução em relação aos últimos campeonatos estaduais, quando tinha de se contentar em lutar para não terminar na última posição da tabela.

“A temporada foi muito boa. Nós, que ficávamos sempre entre os últimos no Carioca, terminamos em quarto. É uma evolução em relação aos últimos anos”, diz Luizinho, que espera, no mínimo, repetir o desempenho no campeonato estadual de 2009, que começa no dia 25 de janeiro.

“A meta para o Carioca é chegar novamente entre os quatro primeiros”, explica, com os pés no chão, mas sem deixar de sonhar com o título.

“Pela tradição do Botafogo, a gente tem que entrar em qualquer competição pra disputar título, pra ser campeão, independentemente das nossas dificuldades”, diz, lembrando que, na OPG, o clube chegou à final contra o Fluminense, superando adversários de peso como Flamengo e Vasco.

“Os times são nivelados, tanto que chegamos na final do OPG, mesmo tendo uma estrutura menor que Vasco e Flamengo”, comenta.

A equipe, que acaba de entrar de férias depois da final do Torneio Octávio Pinto Guimarães, se apresenta dia 5 de janeiro para o início da preparação para o estadual. A competição será a prioridade no começo da próxima temporada, uma vez que o clube não disputa a tradicional Copa São Paulo de Juniores, que começa no dia 3 de janeiro, o que dará maior tranqüilidade à preparação para o Campeonato Carioca.

Porém, Luizinho admite que não disputar a Copa São Paulo não é o ideal. Segundo o treinador, o clube, que também não participou da última edição da competição, sai prejudicado com a ausência.

“O Botafogo perde muito. Os jogadores também perdem muito com isso. É uma competição importante e nós queríamos participar. Mas a decisão partiu de um consenso entre o Bebeto e a coordenação do amador e nós temos de aceitar”, diz, lembrando que os jogadores perdem uma importante vitrine, o que diminui o interesse de alguns em jogar pelo clube.

Apesar de todas as dificuldades devido ao fato de ter a menor estrutura entre as divisões de base dos grandes carioca, Luizinho Rangel acredita que a base alvinegra começa a se aproximar de seus objetivos com a cessão de atletas para o futebol profissional.

 “O mais importante é que a equipe de juniores está conseguindo botar jogadores no profissional. Revelar jogadores e ajudar o clube é a meta de qualquer divisão de base”, analisa Luizinho, que revela os jogadores que devem se juntar ao elenco profissional a partir de 2009.

“Confirmados nós temos o Laio (atacante), o Wellington Júnior (volante e lateral) e o Jougle (meia e volante). Fora esses três, ainda estamos estudando a possibilidade de levar o Pará(meia e lateral) e o Gabriel(lateral) para o profissional”, explica.

Os três jogadores confirmados no profissional já foram relacionados em jogos do Alvinegro no profissional. O lateral e meia Wellington Jr. chegou, inclusive a marcar em uma partida do Campeonato Carioca. O atacante Laio, atualmente o mais badalado dos três, foi vice-artilheiro do OPG, com 14 gols, recebendo elogios de Ney Franco, técnico da equipe profissional.

Mas o momento não é só de alegria pelo bom ano de 2008. Com a ascensão de alguns jogadores para o profissional, o técnico Luizinho Rangel e a coordenação de futebol amador do clube terão trabalho para remontar a equipe para as competições de 2009. A situação se complica um pouco mais pela proximidade do Carioca de juniores, mas isso não preocupa Luizinho, que tem confiança na qualidade do time juvenil alvinegro.

“Com a saída desses jogadores que foram para os profissionais e os que não renderam o esperado, temos que reformular o elenco. Uma vantagem que nós temos é que o juvenil do Botafogo é muito bom. Ele vai ser fundamental nessa reformulação”, analisa.

O balanço final de 2008 é positivo. A esperança da torcida alvinegra é que o de 2009 seja ainda mais feliz. Se possível, que venham os tão desejados títulos e revelações para os profissionais. Este é o desejo da torcida do Botafogo para que o clube tenha um 2009 ainda melhor.

17 de dez. de 2008

Ecos do Maraca entrevista: Rafael Casé

De manhã no Redação Sportv, à tarde falando para o Ecos do Maraca...

Rafael Casé , 45 anos, é formado em Jornalismo e Relações Públicas pela Uerj, onde também é professor. Com passagens pelas TV’s Manchete, Globo e SBT, atualmente está na TV Brasil, onde trabalha como diretor do programa “Observatório da Imprensa”. Com quatro livros publicados, Casé nos recebeu para uma entrevista acerca do lançamento do último deles, a biografia "O Artilheiro que Não Sorria - Quarentinha , o Maior Goleador da História do Botafogo". Eis a conversa:

Socialmente e futebolisticamente falando, quem foi Quarentinha?

Rafael Casé: Como jogador, foi um goleador nato, tinha um chute com a perna esquerda muito potente, embora também soubesse bater bem com as duas pernas, cabeceasse e armasse jogadas bem, o que fez com que, segundo nosso levantamento, ele marcasse cerca de 500 gols em sua carreira, sendo 313 pelo Botafogo, em aproximadamente dez anos de clube. Como pessoa, era extremamente reservado e em sua casa não se falava sobre futebol, não desejava que seu filho seguisse a mesma carreira. Era uma pessoa muito fechada. Só se abria com quem tinha muita intimidade, o que fez com que sua imagem para o público em geral fosse de alguém que não sorria.

Por que a opção por Quarentinha?

RC: Na verdade, o Quarentinha me escolheu. Para mim, foi um prazer, porque pude resgatar a história de um sujeito que tem muita importância no futebol do Botafogo e do Brasil , até porque um perna de pau não faz mais de 300 gols, mas somente um craque. O que admiro neste livro é que ele traz Quarentinha de volta para os torcedores do Botafogo, mostrando que é mais um jogador importante da história. Já havia biografias publicadas de Didi, Garrincha, Nilton Santos, Zagallo, ou seja, agora todos esses craques estão juntos novamente, só que na estante.

Dentre tudo que foi pesquisado, há alguma história pitoresca que se destaque acerca da vida de Quarentinha?

RC: Há uma história muito interessante sobre as viagens que se fazia àquela época. O time do Botafogo foi jogar na Suíça, onde os hotéis tinham um preço elevado, fazendo com que os dirigentes resolvessem colocar os jogadores num hotel na França. A equipe foi jogar às dez da noite e depois da partida houve uma recepção no hotel onde estavam hospedados os jogadores, o que os deixou acordados até as quatro da manhã. No dia seguinte, estava marcado um almoço na embaixada na Suíça, o que os fez retornarem ao país. Acabado o almoço, a delegação pegou um vôo para o Egito, onde chegaram somente à noite. Impressionados com o barulho que ouviam, descobriram um drive-in ao lado do hotel em que se passavam filmes eróticos, o que os fez permanecerem acordados até a madrugada. Por fim, no dia seguinte, os atletas estavam jogando uma partida contra o combinado do Egito, às 14h, sob um sol de 50° C, à sombra. Mesmo com essa loucura de fusos horários, todos adoravam, era uma vida que nenhum deles havia sonhado ter.

"{O Quarentinha} era uma pessoa muito fechada. Só se abria com quem tinha muita intimidade, o que fez com que sua imagem para o público em geral fosse de alguém que não sorria".

Como foi o processo de pesquisa?

RC: Começamos conversando com a família e, a partir daí, procuramos jogadores que jogaram com e contra ele, jornalistas da época, etc.Paralelamente a isso, fizemos uma grande pesquisa em periódicos, em revistas esportivas e jornais da época, para que pudéssemos fazer esse amarrado no conteúdo.

Como foi sua reação à recepção do público quando do seu lançamento?

RC: O lançamento de um livro é algo muito curioso. Fico pensando no que leva uma pessoa a ir a um lançamento de um livro para pegar o autógrafo de uma pessoa que ela não conhece. Só pode ser por uma identificação muito grande com o tema e daí ter a curiosidade de conhecer quem escreveu. Foram muitas pessoas que tinham visto Quarentinha jogar, pessoas de mais idade que estavam gostando de ver sua história ser contada. Um exemplo disso foi uma senhora de uns 70 anos que apareceu lá espontaneamente, sem companhia, pegar seu livro. Isso é muito bacana.

Como você enxerga essa relação entre o público-torcedor que não viu Quarentinha jogar e o livro? Qual é o papel do livro nela?

RC: A literatura esportiva tem crescido bastante, porque há procura. As pessoas têm interesse em buscar a história, a questão é que vivemos numa sociedade que valoriza muito pouco a leitura. A história de Quarentinha a princípio parece atrair somente quem torce pelo Botafogo, mas o livro é muito mais do que isso, é um retrato de duas décadas muito importantes para o futebol brasileiro, que é uma expressão da cultura do país, da sociedade da época , traçando um panorama de um período muito importante para o Brasil.


Por que Quarentinha não tem tanto reconhecimento pelo público?

RC: O Botafogo valoriza muito pouco qualquer jogador, até mesmo Garrincha e Nilton Santos só foram valorizados mais recentemente. Quanto ao caso de Quarentinha, acho que se deve principalmente ao seu temperamento. Ele não era um jogador marqueteiro, não buscava se autopromover. Atualmente, o jogador faz três gols e busca aparecer de qualquer forma. Sendo assim, seu temperamento arredio fazia com que ele não se aproximasse da mídia, o que acabou se refletindo na torcida. A seu favor, Quarentinha teve as estatísticas. Ele não foi esquecido porque é e nunca deixará de ser o maior artilheiro da história do Botafogo. Assim como Dinamite no Vasco ou Zico no Flamengo, Quarentinha nunca será ultrapassado como maior artilheiro do clube, até pela realidade atual do futebol.

Existe algum outro jogador do Botafogo que não tenha tido o devido reconhecimento à sua obra e que merece ter sua história estudada?

RC: Vi o Manga jogar no fim de sua carreira no Internacional, e ele ainda era um grande goleiro. Quem o viu jogar diz que ele foi um dos maiores goleiros de todos os tempos do futebol brasileiro. Também não é tão lembrado porque era uma pessoa igualmente simples, de poucos estudos e que não teve oportunidades em Copas do Mundo. Embora não tenha sido goleiro de Copa, onde jogou foi ídolo, desde o Uruguai até o Rio Grande do Sul, não sendo diferente com o Botafogo. É o tipo de jogador cuja história é interessante de se contar, porque não é só a trajetória esportiva, porque há toda uma trajetória pessoal que se confunde com a realidade do clube, da cidade e do país. Isso que é bacana na biografia.

"...a partir dessas personalidades a pessoa pode conhecer mais sobre o seu país, o que indiretamente faz com que o indivíduo se interesse por outros assuntos do passado que talvez não fosse buscar num livro específico sobre tal tema".

Você pensa que, no futebol atual, existe algum jogador que possa ter essa relevância para um clube a ponto de se lançar uma biografia atrelada ao time?

RC: Muito difícil, talvez apenas Rogério Ceni possa representar uma exceção, por toda a imagem que conseguiu montar no São Paulo e por sua determinação de, mesmo tendo chance de sair do clube por um proposta melhor, ficar no time. O Rogério, além de ser um atleta de um clube só, ele tem um currículo com muitos títulos. Porém, ele é uma exceção, porque hoje em dia por qualquer “três mariolas” os jogadores estão saindo.

Existem muitas dificuldades para quem edita e escreve livros no Brasil?

RC: Escrever livro é só prazer. Dá muito prazer, mas não dinheiro. Se pudesse só trabalhar nisso, seria o que faria, mas há de se trabalhar em outras coisas para poder se sustentar. Ainda existe a questão da editora. Evidentemente, se o assunto é mais popular, há mais chance de se ter uma boa editora. Mas há toda uma estrutura editorial que dificulta as coisas, porém, se você tem uma grande editora, tudo é mais fácil. Ela deixa os livros mais expostos.

A falta de leitura contribui para a diminuição relativa da memória da sociedade?

RC: Certamente, não temos o hábito de resgatar biografias, isso é muito raro em comparação com o que se vê em outros países. Porém, isso está mudando, notadamente nesse ramo da biografia, o que é bacana, porque a partir dessas personalidades a pessoa pode conhecer mais sobre o seu país, o que indiretamente faz com que o indivíduo se interesse por outros assuntos do passado que talvez não fosse buscar num livro específico sobre tal tema.

Canhoto e Rodrigo Paradella

16 de dez. de 2008

Quarentinha vezes Google


Vamos todos ler porque a Internet emburrece as pessoas

Fim de mais um ano sem surpresa, sem ídolos (ou com ídolos, para quem não é das antigas), sem títulos, mas com estória para contar. O lançamento do livro "O Artilheiro que Não Sorria - Quarentinha , o Maior Goleador da História do Botafogo", de Rafael Casé, vem trazer a distração necessária para quem ficou um ano atrás de tal prêmio, de quem se preocupou demais com toda essa coisa chamada futebol.

A impressão que se tem é que, frustrações à parte, todos estão a fim de degustar uma boa leitura, respirar um pouco mais dessa botafoguicidade e se deixar envolver, conhecendo aprofundadamente a história de um dos maiores atacantes do futebol brasileiro e carioca. Peraí....atacante? Quarentinha? Quem?

Pois é, no mundo googleizado atual, soa estranho falar-se nesse nome ao se lembrar o que é o Botafogo. Inúmeras figurinhas fáceis, de ontem e de hoje, remetem ao imaginário atrelado ao preto e branco, e o engraçado é que muitas delas estavam ali, bem perto do artilheiro filho de Quarenta, também ex-jogador.

Para que tudo fique (um pouco) mais claro, dá-se a palavra para quem presenciou o evento: quem viveu com Quarentinha e sabe do seu lado boêmio, como o sambista Walter Alfaiate ( procure no Google se não sabe quem é); quem viu Quarentinha jogar, sabe do seu potencial e conta histórias nas quais acreditamos piamente, até que Rafael Casé(ou o Google) nos prove se é verdade ; ou de quem nem viu nem viveu, mas somente entrou no Google mesmo. Ou nem isso.

Mas se você não entrou nenhuma vez na Internet para fazer isso, por favor, acredite neles. Ou compre o livro.



13 de dez. de 2008

Como prever o campeão brasileiro de 2009


Não, não é um manual de iniciação na antiga arte da adivinhação ou do chute puro e simples, este breve guia é baseado em fatos estritamente reais.

O manual de como fazer a – aparentemente - difícil previsão conta com alguns itens. Começo detalhando o primeiro deles neste post.

1 – O poder econômico do clube é essencial

O primeiro, e talvez mais importante de todos, item deste manual destaca o poder do dinheiro em campeonato de pontos corridos como o brasileiro. Não, não é que o dinheiro seja gasto para comprar juízes, jurados do STJD e dirigentes da CBF. Pode até ser para isso, mas não é esse tipo de coisa que faz o poder econômico fundamental para um clube que almeja o título brasileiro.

Todos que se dão ao trabalho de ler este texto sabem que qualquer clube precisa de um elenco com muitas opções para ser estável durante uma competição longa como essa. O problema é que um elenco grande – e de qualidade – custa caro. E quem tem mais condições e margem de erro para formar um bom elenco? Não poderia ser mais óbvia a resposta. 

Esta é uma divisão em grupos dos clubes que disputaram o campeonato de 2008 por ordem de riqueza ou poder de investimento (leia-se: patrocinador, fundos de investimento e etc):

Classe A

São Paulo

O fato de estar em grupo separado já diz tudo. É o clube que mais fatura e o que mais gasta no futebol brasileiro, por isso tem sempre – basta querer - o melhor elenco da Série A. Resultado? Tricampeão brasileiro e maior campeão na era dos pontos corridos.


Classe B

Palmeiras
Fluminense
Cruzeiro
Internacional
Flamengo

Este grupo forma o que se pode chamar de a classe média alta do futebol brasileiro. Apesar das diferentes formas de arrecadação, são os times que mais faturaram nos últimos anos, com exceção do Palmeiras. 

O clube paulista conta, desde o início deste ano, com a parceira Traffic que financiou a vinda de jogadores como Kleber, Henrique e Diego Souza, o que trouxe uma perspectiva de grande exposição para a Fiat, patrocinadora que investe R$ 11 milhões anuais no porco. O Flamengo conta com a Petrobras e a numerosa torcida que tem. O Flu tem talvez o maior patrocinador - entre contrato e salários pagos – do futebol brasileiro, além de contar com a ajuda do Grupo Sonda. O Inter é, dos 5, o que recebe menos do patrocinador, mas ganha mais de R$ 2 milhões mensais com seu bem-sucedido plano de sócio-torcedor. O Cruzeiro é mais misterioso que os outros quatro do grupo, mas certamente está no mesmo patamar de investimento.


Classe C

Grêmio
Botafogo
Santos
Goiás

A classe média-média do nosso futebol conta com o Grêmio, que se sustenta de forma parecida com o Inter, embora não seja tão bem-sucedido; o Botafogo, que, com a ajuda de parceiros como a Ability e MFD e do patrocínio da Liquigás, tem um poderio razoável apesar das dívidas; o Goiás que tem lá sua força como potência regional e clube bem administrado e, finalmente o Santos, que ainda vive das sobras do dinheiro do melhor time brasileiro dos últimos anos, o de Robinho, Diego e Cia.

Estes são times que, se não conseguem vencer sempre os clubes do grupo superior, pelo menos arrumam uma ou outra vitória isolada contra os mesmos. Casos das negociações de Souza do Grêmio, Túlio Lustosa no Botafogo em 2007 e Iarley no Goiás. 


Classe D

Coritiba
Vasco
Vitória
Sport
Atlético-MG
Atlético-PR

A partir deste segmento, todos os clubes precisam de revelações e descobertas para sobreviverem. O Coritiba revelou o artilheiro Keirrison, terminou em 9º. O Vitória apresentou o bom meia Marquinhos, passou o campeonato sonhando com Libertadores como o Coritiba e encerrou sua participação na confortável 10º colocação. Em menor escala, o Atlético revelou o talentoso Renan Oliveira e se salvou com certa antecedência do rebaixamento.

O Sport disputou a competição com a tranqüilidade de quem não tinha porque lutar demais por uma boa posição e tinha formado um elenco razoável. Terminou em uma boa e justa 11º posição na tabela.

Vasco e Atlético-PR não revelaram grandes valores – apesar de Mádson e Alex Teixeira serem bons jogadores, não traduziram seus talentos em regularidade pro clube da colina. Resultado: o Vasco caiu; o Furacão, quase. 

Classe E

Figueirense
Náutico
Portuguesa
Ipatinga

Estes são os miseráveis da Série A. Dos quatro, três caíram. O Náutico, único que se salvou, terminou a apenas alguns gols de saldo do Figueirense, primeiro entre os rebaixados.

O Ipatinga viveu seus anos de ouro enquanto teve parceria com o rico Cruzeiro. Depois disso ainda conseguiu subir da Série B para a elite, mas amargou dois rebaixamentos seguidos, no Campeonato Mineiro e no Campeonato Brasileiro.

A Lusa, que já foi mediana, hoje é pequena e ainda ficou em pior situação quando a saída Diogo ocorreu e o clube não pode – talvez por causa das dívidas - contar com mais dinheiro para reforçar seu elenco.

Náutico e Figueirense são clubes quase intermediários no cenário brasileiro atual, mas investiram pouco nesta temporada. Como retorno tiveram a 16º e a 17º posições, respectivamente.

Comparação

Terminada esta exposição, uma rápida comparação entre os grupos determinados acima e suas posições no Campeonato Brasileiro.

O São Paulo, único integrante da Classe A foi campeão, apesar das dificuldades.


Da Classe B, que reúne os clubes que estão entre o 2º e o 6º mais ricos do país, apenas o Fluminense não terminou a competição na zona correspondente, apesar de ter feito boa campanha na Libertadores e se complicado no Campeonato Brasileiro por causa da perda do título internacional. O clube das Laranjeiras foi a maior decepção do campeonato, terminando em 14º.


Na C, que conta com clubes que estão entre o 7º e o 10º mais rico, Grêmio e Santos não terminaram na zona correspondente aos seus poderios econômicos. O clube da Vila Belmiro decepcionou e, mesmo com um elenco razoável, terminou na péssima 15º posição. O Grêmio fez o contrário e foi a surpresa positiva do campeonato, sendo vice-campeão com um elenco mediano.

A Classe D teve leves variações para cima e para baixo. O Coritiba e o Vitória fizeram campanhas positivas em relação aos seus investimentos, terminando em 9º e 10º, respectivamente, enquanto o limite positivo do grupo seria na 11º colocação. As boas revelações apresentadas pela dupla podem ser apontadas como motivo para esta leve surpresa.

O Vasco seguiu caminho contrário e foi o único que caiu do grupo, ficando abaixo do limite negativo, que seria na 16º posição. O clube da Cruz de Malta terminou na 18º, não tão distante de onde deveria.

Já Galo, o Furacão e o Sport terminaram exatamente onde tinham forças para ficar, entre a 11º e a 16º posição, sem caírem nem brigarem por Libertadores, embora o Sport tenha se classificado pela Copa do Brasil.

Na Classe E, só o Náutico se salvou e terminou fora da sua posição esperada. A sua força no Estádio dos Aflitos talvez tenha feito a diferença a seu favor e salvo o clube. Os outros três eram rebaixados mais óbvios e assim foram até o final.

Conclusão:

De 20 clubes, 13 ficaram exatamente onde ficariam em uma análise econômica. Outros quatro ficaram a menos de 2 posições de onde deveriam ficar. Os motivos para as discordâncias serão analisados nos próximos posts.