22 de abr. de 2008

Ecos do Maraca

O Estádio do Maracanã é o maior palco futebolístico do mundo. Carregado de mítica, de lendas, de histórias de partidas inesquecíveis, o Maraca é cartão-postal inquestionável do Rio de Janeiro e o templo máximo do futebol.

O Estádio Jornalista Mário Filho já recebeu inúmeros espetáculos desde sua inauguração na Copa do Mundo de 50 – espetáculos tristes e felizes. Já pisaram em seu gramado algumas das maiores lendas do futebol; nele ocorreram alguns dos acontecimentos mais marcantes da história do esporte.

Foi nas traves à esquerda das cabines de imprensa o milésimo gol de Pelé. Foram suas arquibancadas que reverberaram o silêncio após Ghiggia vencer Barbosa naquele fatídico 16 de julho de 1950. Passaram pelo seu gramado craques como Didi, Garrincha, Zico, Roberto Dinamite.

Foi no Maracanã, também, que Renato Gaúcho marcou seu inesquecível gol de barriga naquele Fla-Flu da final do Carioca de 95, aos 42 do segundo tempo, em cruzamento de Aílton (uma menção que este blogueiro em particular não poderia deixar de fazer); foi a grama do estádio que Dimba comeu após o título estadual de 97, numa partida em que ele fez o gol que deu a taça ao Botafogo; foi nele que Cocada entrou no final do jogo, fez o gol que deu ao Vasco o bicampeonato carioca em 88, e logo depois foi expulso por tirar a camisa na comemoração; foi a baliza à esquerda das cabines de imprensa (mais uma vez) que teve as redes estufadas com a cobrança de falta de Petkovic, aos 41 do segundo tempo, dando o título estadual de 2001 ao Flamengo, contra o Vasco.

O Maraca já atingiu um status que o alça além de um simples estádio de futebol. Ele é mais que palco, mais que anfiteatro, mais que Coliseu do futebol, mais que gramado-quatrolinhas-concreto-travesredegol.

O Maraca é símbolo. Metonímia do futebol, representação do Brasil, metáfora da vida. Ou da vida como ela deveria ser: o trabalhador que luta pelo pão-nosso-de-cada-dia (e pelo ingresso-nosso-de-cada-domingo) se abraça com o executivo que despe o terno e a gravata para estampar no peito o escudo do time. Da vida como ela não deveria ser: porrada entre torcidas de times diferentes, entre torcidas do mesmo time. Da vida como ela é: ali se morre e se renasce – choro e riso, grito e silêncio. A vida transborda nos extremos do Maraca – da verde à amarela, da cadeira ao camarote, da branca às cabines de imprensa, dos vestiários ao campo.

O Maraca é nosso. O Maraca é meu todinho. Os cantos ecoam nos cantos; a torcida grita, faz a estrutura tremer; ela escolhe heróis e vilões, elege inocentes e culpados, cria deuses e monstros. Gera fábulas, inventa mitos, reinventa a realidade. “O Obina é melhor que o Eto’o”. A torcida canta músicas que refletem os extremos do Maraca, e ninguém cala – nem o amor, nem o chororô. A torcida continua a cantar a alma, a plenos pulmões. E o meu coração acelera vendo o Maraca cantar.
O Maraca canta e conta contos a cada jogo. A cada nova história ali vivida, a cada espetáculo ali realizado. Canta, mas também ouve. Ouve gritos de jogadores, xingamentos a técnicos e juízes, comentários pertinentes de analistas, comentários idiotas de analistas, comentários previsíveis de analistas; ouve o Galvão gritar seus clichês e disparates; ouve a torcida reclamar, vaiar, xingar mães.

A vida como ela deveria e não deveria ser, a vida como ela é em noventa minutos. Morrer e renascer no Maraca lotado.
Mas poucos percebem que o Maraca vazio do pós-jogo é tão essencial quanto o Maraca lotado durante a partida. É no Maraca vazio que reverberam as polêmicas, as análises, os choros, as comemorações, as provocações. O debate acalorado sobre a arbitragem; as reclamações do esquema tático que o burro do treinador armou; as considerações filosóficas sobre a partida (“ganhamos, poooorra!!!”). Todos os cantos que ainda reverberam pelos recantos do estádio vazio, depois que a partida já acabou.

Ouçam os Ecos do Maraca.

3 comentários:

Felipe Schmidt disse...

Perfeito.

Depois dessas palavras, quem não quiser ouvir os Ecos do Maraca bom sujeito não é...rs

Rodrigo Paradella disse...

Sensacional!

Anônimo disse...

digno da sensibilidade tricolor.