9 de dez. de 2008

Em melhor forma, mais calmo, saudável e produtivo, o São Paulo não perde o Campeonato Brasileiro.

Um certo Canhoto já previra, há quase dois meses: não há mais surpresas. O Radiohead finalmente vir pro Brasil é só uma exceção que confirma a regra, e a plenos pulmões cantaremos ironicamente o quão belos são a casa e o jardim.

São Paulo campeão. Campanha mais regular no segundo turno. Defesa sólida. Ataque produtivo. Mesmo goleiro há dez anos. Segurança. Mescla de antigos jogadores com novas contratações e revelações. Muricy pragmático. Não chora em público. Cara fechada. Procedimento operacional padrão. Jogos simples. Espetáculo só no Municipal.

Rogério Ceni: “Pela primeira vez, em vez de pedir pra ganhar, pedi pra não perder”. E o São Paulo não perdeu.



Os outros perderam. O Grêmio tomou cinco do Vitória. O Cruzeiro, do Náutico. O Palmeiras, do Flamengo (e três do Flu). O Flamengo, oito dos Atléticos, e empatou em pleno Maracanã com Portuguesa e Goiás. Foram irregulares. E o campeonato (e a Bola de Prata da Placar) premiam a regularidade. Sem surpresas: São Paulo campeão.

Ode aos projetos a longo prazo. À estrutura. Ao pla-ne-ja-men-to. Ao discurso de jogador simplório com livro de ponto expediente protocolo e manifestações de apreço ao Sr. Professor. À justiça: o mais regular, o mais eficiente foi campeão. À emoção forçada como o choro dos sentimentais nas poltronas do cinema. À aniquilação do inconstante. Do circunstancial. Do lampejo. Das zebras. Do ímpeto. Das surpresas. Dos times de futebol.

Nada pode mudar ou frear o avanço do futebol globalizado, o futebol moderno, times são empresas e futebol é um excelente negócio. Jogadores são empregados (com livro de ponto expediente protocolo e manifestações etc.) com cara de pontos corridos. Os trinta e oito jogos têm o mesmo valor: mas não são trinta e oito finais, são trinta e oito jogos. Enfrentamentos sistemáticos em que ambas as equipes galgam parâmetros em busca dos três pontos, com todo o respeito ao adversário e ao Sr. Professor. Ingresso: trinta reais, estudante paga meia. Aos sábados, 18h, e aos domingos, 16h e 18h.


Nada soa absurdo, tudo se encaixa. É como a vitória: vem naturalmente. É assim na Europa. Façamos assim no Brasil. Mais cedo ou mais tarde iria acontecer. Estatísticas comprovam: é o melhor sistema. Os números comprovam: o São Paulo é o mais regular.



Ora, ainda se chora no título, se faz a volta olímpica, se levanta uma réplica da taça, que parece falsa e feita de plástico. A cada rodada uma nova emoção: moderada, contida, mas ainda sim uma emoção. Afinal, o título não se ganhou aqui ou ali, foi o conjunto do trabalho. Educadamente, aplaudamos de pé o dinheiro bem gasto.

Aplaudamos de pé o São Paulo, a empresa mais bem estruturada, organizada, e soberana do futebol praticado no Brasil. O São Paulo foi o único a não perder o campeonato.

Por que não estou surpreso?

Silent silence.

4 comentários:

Rodrigo Paradella disse...

Nada mais previsível que um Campeonato Brasileiro com pontos corridos...

E ainda querem convencer alguém de que esse é realmente um campeonato equilibrado...

Mais informações no próximo post...

Etchatz disse...

James, bem gay o seu texto. bem sentimental, detalhado, realmente você é o cara desse blog.

James M. Barrie disse...

O bom entendedor saca que eu falei basicamente a mesma coisa que o texto do Bony, mas de maneira menos óbvia.

Rodrigo Paradella disse...

Com certeza aahahah

Na verdade, fui eu que falei a mesma coisa ahahah