18 de out. de 2008

No Surprises

"Eres una cambada de huetários"


A capa de domingo do jornal Marca, da Espanha (para quem não sabe, na Espanha a essa hora todos já viraram a night boêmia de Ibiza regada a muitos seios e glúteos e estão no sono de domingão) diz: “La Vida Sigue Igual”. É uma referência à vitória de 2 a 1 do Real Madrid sobre o Atlético, no dérbi local, e a conseqüente manutenção do tabu diante do adversário, que chegou à marca de quatorze clássicos seguidos sem vitória dos colchoneros. Mas poderia muito bem ser uma alfinetada na situação do Botafogo, tendo em vista suas últimas temporadas.





A rotina já é manjada: encantar no Carioca e perder para o Flamengo na final, ficar na semi-final da Copa do Brasil para um time medíocre e criar expectativas no Brasileiro, terminando com o prêmio de disputar a Copa Sul-Americana do ano seguinte. Não há mais surpresas, como diz Thom Yorke, e o que acaba restando ao torcedor é resignar-se diante da melancolia da vida. Tá, não é pra tanto, mas não venham me dizer que o título da competição internacional vai representar algum marco na trajetória do clube.

Os torcedores vamos, ano a ano, acreditando que as coisas mudarão, que a marra dos flamenguistas vai se desfazer assim como o Triguinho se desfaz da bola. Surgem ídolos instantâneos que, sem precisar fazer muito, são alçados a essa condição e contestados no momento seguinte. Justiça seja feita também: no fim das contas, bem ou mal, a cornetagem acaba ficando diluída e ganhando um pouco de razão, haja vista os resultados obtidos ao final da temporada.

O nível de xingamentos e atribuições de culpa nos gols a Castillo é tão absurdo que faz parecer que o uruguaio é o alterego de Dunga, Lúcio Flávio é mais desanimado do que o Biriba(ou Biruta, os dois são brochantes), Alessandro e Triguinho têm cabeças que representariam de forma muito clara os Conjuntos Vazios que a gente via todo ano no colégio em Matemática. Bebeto de Freitas e companhia são tão bonzinhos, mas tão bonzinhos, que acabam só se fudendo. Tendo em vista esse panorama, ano a ano ficamos nesse rame-rame, taxados de chorões, afinal vamos nos orgulhar do quê?

Thom Yorke se preparando para fazer o triângulo da Fúria

Não é uma desistência, é só uma exposição de uma realidade que se repete constantemente, e que acaba não sendo combatida. Ir do título para a Libertadores e da Libertadores para a Sul-Americana faz pensar se as coisas têm sido bem feitas. É melhor do que brigar para não cair, mas é evidente que se tem (teria) condições de traçar planos mais ousados. É entrar na fila pra comprar o disco novo do Strokes e ele acabar antes de chegar a sua vez. A atendente te oferece o novíssimo do Kaiser Chiefs e você responde : “Ah, tudo bem, pode ser.” Não é ruim, mas fica a sensação de que você mais perdeu do que ganhou.

Sendo assim, tudo que a torcida quer é uma nova cor ao seu cotidiano, pois não está na sua repetição o problema. Você não vai encontrar o Bernardinho e escutar dele: “Que tédio, não agüento mais ganhar, vou praticar bocha”. A vitória é a repetição que não enjoa. É muito pouco palpável essa dignidade, esse orgulho de ser botafoguense, se ele cai na mesmice do ser por ser.

Apesar de tudo isso, a melancolia radioheadiana não leva a situação(ou a oposição) para a frente. Talvez seja necessário escutar algo como isso...



PS: Sim, o texto só pretende desabafar, não cobre conclusões dele.

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Desafogue-se você também.

5 comentários:

Saulo disse...

Não fizemos nada em campo com muitos erros no toque de bola e pouca movimentação. Foi um time muito sonolento, sem vontade nenhuma de ganhar.
A única coisa boa mesmo foi à homenagem para Garrincha. Como que o futebol dele faz falta no Botafogo heim. Que saudades do Mané.
O Ney Franco errou feio quando tirou o Wellington Paulista para colocar Lucas Silva. Era para tirar o Diguinho que estava perdido em campo. Mais um entre tantos erros do Ney que ajudou a piorar mais ainda o péssimo futebol.

Rodrigo Paradella disse...

"Deixa...
deixa...
deixa eu dizer o que penso dessa vida...
preciso demais desabafarrr..."

Música do Renato Silva

James M. Barrie disse...

No Surprises é a melhor música da década de 90.

warley.morbeck disse...

A rodada acabou sendo excelente para o Flamengo.

Unknown disse...

Cara, me desculpe a franqueza, mas grande parte da culpa na minha maneira de ver é do próprio alvinegro. Eu vejo o futebol carioca da seguinte forma: existe um clube que é de longe o mais explorado em função de seu potencial econômico, gerado pela enormidade de sua torcida. Graças a tal potencialidade, volta e meia faz-se uma exaltação barata de seus fãs, o que quase sempre cai em lugar comum, ou em falácias, beirando o ridículo. Há um outro clube que tenta de qualquer forma competir e superar o rival popular. Praticamente vive em função disso. Ultimamente tem sido tão mal-sucedido que acabou perdendo a auto-estima. Mas há outros dois que vão na contra-mão dessa tendência massificadora. Um deles(o meu) tem nos torcedores um instrumento de deboche em relação a essa idolatria pela massa. Esses torcedores carregam a fama de arrogantes por nunca perderem a pose, tripudiando da maioria popular(créu). Existe um quarto clube, que também é avesso a esse "populismo" cretino instaurado pela mídia, mas a diferença é seu eterno complexo de cachorro vira-lata. Isso que é duro. Os seguidores desse clube, em geral não são sarcásticos, são mais introspectivos, reservados e supervalorizam o próprio fracasso. Existe uma frase que muito me irrita e traduz esse pensamento que apequena o clube:"Existem coisas que só acontecem com o Botafogo."

Saudações Tricolores!