Os chamados (por mim mesmo) livros de ficção social sempre foram meus preferidos. Obras clássicas como 1984, de George Orwell, ou Admirável Mundo Novo, de Aldous Huxley, despertaram em mim o fascínio em imaginar como seria a sociedade no futuro. Durante os meus devaneios em tentar eu mesmo começar um romance, era nesse tipo de história que queria me espelhar. Não pensar no futuro como a era das espaçonaves, armas de laser e humanos com superpoderes. Mas tentar prever como a sociedade, com o que a gente sabe hoje, poderia ter se transformado até uma certa época.
Dentre algumas ideias menos sérias (tipo o surgimento de cursos de Contabilidade especializados para traficantes de drogas), outras realmente mexeram com o meu imaginário, no sentido de se mostrarem, pelo menos, mais viáveis. Algumas delas seriam:
1) Em muito pouco tempo, teremos no Brasil um presidente de origem evangélica. Os desdobramentos desse ato podem ser muitos, desde o surgimento de uma polícia cristã urbana, que denunciaria os atos considerados ofensivos à moral, até o agravamento de conflitos sociais oriundos de discriminações.
2) O adultério não vai mais existir. Não como crime, pelo menos. (Acho que já não é mais, mas vocês entenderam, né) As pessoas terão relacionamentos abertos, em que flertar, sair e dormir com outros parceiros não vai ser visto como traição. Talvez exista algum código não oficial de conduta, tipo, cada pessoa pode ter relacionamento com outras três sem que isso seja considerado errado. Logicamente, muita gente ainda vai se casar e prezar por um relacionamento sério e a dois, mas muitos na prática vão só tratar o marido ou a mulher como o parceiro nº1.
3) Pornografia vai ser a nova onda, estilo seriados americanos. Já está disseminada meio que de forma velada e o que mais se vê na tv é sexo. Não vai demorar até que o tabu caia e os filmes pornô hardcore saiam do armário e, com ele, 90% dos homens (e muita mulher também).
4) O mundo do futebol vai virar uma putaria (até teria a ver com o item 3, né?). O que eu quero dizer: a geopolítica do futebol vai ser bagunçada com a rearrumação da economia. Vai ter muita gente, muita, torcendo pra grandes times europeus no Brasil e, em contrapartida, um movimento de uma galera acompanhando muito o futebol brasileiro (e sulamericano, caso a economia ajude).
Opa, peraí. Esse último não tá tão longe da realidade. E é dele que eu quero falar. Cara, não sei se tô velho e chato, mas não consigo deixar de ficar surpreso ao ver como consumimos futebol estrangeiro por aqui. A apresentação do Neymar ao Barcelona, em outros tempos, seria uma mera notícia do jornal do dia seguinte, hoje tem acompanhamento em tempo real em TV aberta. É claro que hoje em dia a mídia tá em tudo quanto é lugar, não me importo com isso. Mas acredito que isso venha trabalhando para que, aos poucos, os clubes europeus não sejam um complemento dos times brasileiros. Sejam rivais. Não no sentido de que eu torço pro Flu, logo quero que o Chelsea exploda. É mais algo como "sou milanista, na Itália e no Brasil".
Nunca tive acesso à tv por assinatura, então sempre acompanhei futebol europeu como dava. Comprava o Lance! às segundas pra ver os resultados do Campeonato Espanhol, saber como o Valencia - time pelo qual adquiri simpatia assistindo à Liga dos Campeões pela Rede TV! - tinha se saído. Ninguém que eu conhecesse sabia bem quem era o Mendieta, por exemplo. Também poucos deviam conhecer o saudoso português Luís Boa Morte, dentre outros nomes do futebol europeu. Hoje, sem zoeira, é fácil ter acesso a qualquer tipo de informação sobre esses caras.
Mas que fique claro: eu ainda estranho essas pessoas que torcem muito por um time europeu, mas não acho errado. Pelo contrário, acho que essas barreiras têm que cair mesmo. Países e continentes são meras linhas imaginárias, não vejo porquê haver tanta divisão ideologicamente falando (não no futebol). Óbvio que essas barreiras estão caindo não porque o "primeiro mundo" resolveu ser legal, mas porque a cultura do consumo ajuda a diminuir essas diferenças. Você, torcedor do Flamengo, não acha que a Adidas resolveu fazer esse investimento todo porque o time é muito bom, né? Mas enfim, quanto mais a informação circular, melhor. Talvez um dia exista um campeonato mundial de clubes em que realmente estejam os melhores do mundo. Em que, por exemplo, Bayern de Munique e São Paulo sejam rivais.
Essas mudanças podem ainda não estar perto, mas também não estão tão longe. Na música, por exemplo, artistas que não cantam em inglês e em ritmos pouco conhecidos no exterior podem fazer sucesso (Assim você me mata no estilo de gangnam). Mas a princípio, peço pouco: só sonho com o dia em que eu possa comprar uma camisa em um site alemão com frete grátis e que chegue aqui em dois dias úteis.