15 de out. de 2008

Tioria do Indefinimento


Ninguém é de ninguém



Ou talvez o Manifesto de Exaltação ao Jogador Medíocre.


Essa teoria vem concorrer para a visão perturbadora de que o futebol não é só um espetáculo, é uma competição. Ser uma competição é ter envolvido não só a apreciação e degustação do fantástico, mas também a disputa, o acirramento, a glória suada. É quase um slogan da ditadura. Em outras palavras, é uma ode ao imprevisível, que dá as caras como em nenhum outro esporte e torna a competitividade um atrativo a mais.

Algumas coisas devem ser ditas. Desde 1971, curiosamente os Campeonatos Brasileiros em vigência são sempre os piores de todos os tempos. Fico imaginando cruzeirenses saindo às ruas no ano de criação do certame e desmerecendo o título do galo, pois aquele era “o pior campeão brasileiro de todos os tempos”. Criou-se uma lenda de que o futebol tende somente a decrescer em qualidade (o que é óbvio, até), mas que essa qualidade não só diminuiu como sumiu. Fala-se tanto em campeonatos estrangeiros, abarrotados de craques brasileiros, argentinos, franceses, búlgaros e panamenhos, como se a plantation de jogadores de futebol viesse com carimbo de qualidade. Assista a Avaí x Vila Nova e depois a Inter de Milão x Juventus e depois venha me dizer o que achou. Naturalmente, o segundo é um trilhão de vezes superior.

Se a qualidade sumiu e as poucas esperanças foram para a Europa, então, que tal abolir a liga (liga?) atual? Afinal, este é o pior campeonato de todos os tempos, e o campeão que virá a ser proclamado será o pior de todos, pior do que o último que havia sido o pior até o ano passado.

É claro que é muito difícil se convencer que um time treinado por Celso Roth possa ser campeão de qualquer coisa, mas onde está o valor de um campeonato onde até sete, oito ou nove times podem conquistar o título com nove rodadas por jogar? Se o futebol está criando surpresas mundo afora, o nosso campeonato é praticamente um caso de a surpresa ser não haver surpresas. E como isso o torna uma disputa totalmente inenarrável.

É a exacerbação da teoria da caixinha de surpresas. É como uma prova de Sistemas de Informação: tudo pode acontecer. Você pode se julgar super-preparado e brochar com a nota, ou pode viajar pro Caribe e mandar bem. O Renato Silva pode entregar o ouro num jogo e fazer um gol de voleio e entregar o ouro no outro jogo também. Nunca se sabe.


Aí vem o Zárate, Zárate, Zárate!

E nem só de exemplos escrotos como esse vive a tioria do indefinimento: nosso amigo-foca Zárate provou o sabor dos dois lados em curto espaço de tempo, a ponto de se duvidar claramente do fato de um gol do Botafogo ter sido marcado por ele. Ah, ele é atacante.

Quer outro exemplo? Que tal um time que é declamado desde o início como hiper-favorito, que tem as maiores estrelas, brasileiros e estrangeiros, mas que está na honrosa décima posição? Vão aí duas peripécias desse mesmo time, coisas coerentes como perder para o lanterna e golear o líder. E olha que teve muito mais durante o campeonato.





Isso vem para depor contra os teóricos do espetáculo e do desmerecimento. É melhor ter dez times disputando um título e deixando tudo indefinido do que ter dois ou três e bajular toda e qualquer jogada que um jogador-lindo-gostoso-promissor-forte-jovem-que-joga-na-Inter-de-Milão-e-come-a-Scarlett Johansson faz. Mas não é uma exaltação ao Brasil.

Afinal, esse texto rocambolesco todo era só pra dizer que a Colômbia vai ganhar do Brasil amanhã.


16 comentários:

Rodrigo Paradella disse...

Seria o Grêmio o melhor ou pior campeão brasileiro de todos os tempos - caso conquiste a taça?

Chegamos a um ponto onde não pode existir meia resposta a essa pergunta paradoxal.

Para os pragmáticos, que consideram o campeonato com maior número de candidatos ao título o melhor, seria, sem dúvidas, o maior campeão de todos os tempos. O contrário poderia ser dito sobre os que clamam pelo futebol espetáculo, com menos objetividade o quanto for possível.

Fica o questionamento para que as duas correntes se posicionem ahah...

Anônimo disse...

Queria tomar um café da manhã com esse Zárate.

James M. Barrie disse...

"Quem quer espetáculo que vá ao Teatro Municipal", já falou o velho pragmático de guerra Muriçoca.
Não me admira que os jogos do SPFC tenham andado um tanto quanto vazios...

Não sei se é válido parafrasear o técnico bambi, dizendo que quem quer espetáculo deve ir à Europa.
Mas não deixa de ser curioso que os campeonatos europeus ganham em interesse justamente pela presença de craques brasileiros e que o nosso campeonato decaia justamente por tentar adotar um modelo europeu.

Ora, vejam só: o campeonato mais badalado do momento é o inglês. O Manchester com seu baitola candidato a jogador mais fresco a ganhar o título de melhor do mundo (e olha que quem ganhou ano passado foi o Kaká), o Chelsea com Felipão, Manchester City com Robinho, Elano(!) e Jô (!!)... não à toa, há anos que a seleção inglesa nada ganha.
E vejam que curioso: o ano em que o campeonato espanhol desperta menos interesse nas últimas décadas é o mesmo ano em que sua seleção (apresentando um futebol mais fincado nas raízes latinas que nas européias) foi campeã da Eurocopa.

Enquanto isso, o Brasil quer se travestir de primeiro mundo e vem sendo sede de campeonatos que ano após ano vão se tornando cada vez mais sem graça.
Os clubes acabam tendo que se organizar na marra - um campeonato de pontos corridos foi instituído num país cujos times não têm estrutura financeira nem política pra arcar com campeonatos mais longos.
Será que é coincidência que quatro dos cinco títulos de campeonatos de pontos corridos até agora tenham ido pra São Paulo, pólo econômico do país? Que os times do nordeste tenham se afundado ainda mais? Que o futebol carioca passe uma crise sem precedentes?

Mas o que interessa é o que ocorre dentro das quatro linhas, não é? Vinte e dois jogadores e a bola. Pois bem, SPFC (que está começando a embalar nesse campeonato também) é a epítome do futebol chato. O futebol faltoso do Grêmio ainda pode ser "justificado" (confundido) com valentia, com garra, com vontade. Mas o SPFC... nem isso. Pura e simples chatice, objetividade, discurso de jogador simplório com livro de ponto expediente protocolo e manifestações de apreço ao Sr. Professor.
Também não é coincidência que esses líderes sejam os mais faltosos. Não é coincidência que o Palmeiras tenha marginais como Léo Lima e Kléber comandados pelo Luxa, outra marginal. Não é à toa que o Grêmio, time mais faltoso, seja o líder, e que o Flu, time menos faltoso, inda outro dia tivesse em último.

De que me interessa que dez times briguem pelo título? Pra que se importar que a espertíssima organização do campeonato faça com que, até o fim, a maioria dos times esteja lutando por alguma coisa - seja título, Libertadores, Sulamericana ou pra escapar do rebaixamento? Por que diabos eu ligaria a mínima pro fato de que a toda rodada o Harvey Dent joga a moeda, e o Inter perca pro Ipatinga e goleie o Grêmio?
De que me adianta tudo isso, se 90% desses jogos são - não há expressão melhor - CHATOS PRA CARALHO?

Grêmio, Palmeiras, Cruzeiro e São Paulo podem ser campeões. E daí? Fora uma ligeira torcida contra os paulistas, pra quebrar um pouco a hegemonia e queimar em parte a minha língua, tanto faz que esse ou aquele seja campeão. É tudo a mesma merda mesmo. Nenhum time se destaca com um futebol mais vigoroso ou interessante. Nenhum craque despontou no campeonato, não há ninguém digno de nota.
Interessam-me, apenas, os jogos do meu time, e ainda assim mais por ligação afetiva do que por achar que os jogos sirvam de alguma coisa em termos técnicos, táticos, plásticos, espetaculosos.

Resta-me torcer pro Kaká e o Robinho fazerem algo de interessante amanhã.
E, Igor, deixa de ser recalcado, tu só tá falando que o Brasil vai perder pra Colômbia porque tu gastou 50 reais no Z.É. e não vai poder ir ao jogo.
Mas provavelmente não vai perder nada.

Mas, quer saber?,: "espetáculo" por espetáculo, talvez seja até melhor ir ver o Z.É. mesmo, ainda que não seja no Municipal...

Anônimo disse...

1 voto a 0 para o futebol arte.

Obs: quanto ódio no coração, James!

James M. Barrie disse...

Sou mesário, vou manipular essa porra de votação inteira.

Anônimo disse...

Fraude eleitoral é crime...

Faça sua parte, a democracia é de todos nós.

"São quatro anos, é muito teeempooo..."

Anônimo disse...

Já saquei a desse James... esse James tem vááárias idéias. Ele tá cheeeio de idéias...
Essa discussão me lembra a visão kantiana, e também encontra alguns paralelos com certas questões levantadas por Baudrillard no seu livro "A Lógica do Papai Noel", capítulo XI, p. 147.

James M. Barrie disse...

Muuuuito teeeempo são as mais de dez horas que eu tenho que passar sentado naquela porra de seção eleitoral ganhando apenas um vale-refeição de quinze reais que nenhum restaurante aceita.

Felipe Schmidt disse...

Seus fanfarrões, vocês avacalham totalmente os comentários rs

Ah, eu tô gostando do Brasileiro. Tá bem mais emocionante do que nos últimos anos, vários times com muitas possibilidades. Quanto aos campeonatos internacionais, a comparação entre Avaí x Vila Nova e um clássico italiano é totalmente desproporcional. O certo seria comparar com algum jogo esdrúxulo da Série B Italiana, algo como Rimini x Frosinone. E aí, não seria melhor ver o Túlio Maravilha? rs

E a questão do jogo bonito não existe nem na Europa direito, mas discordo que não tenhamos bons jogos e, sobretudo, bons jogadores por aqui. Só nesta edição do Brasileiro, surgiram caras como Keirrison, Marquinhos e Willians(do Vítória), além de ter confirmado uns protótipos de craque, tipo o Hernanes, o Guilherme(do Cruzeiro). E, claro, ainda temos o Zaráte...

E o Gabriel tá bolado porque o campeonato do Fluminense, sim, tá chato. Mas concordo com a questão da aleatoriedade dos resultados. O Inter é caso simbólico disso.

E o Brasil vai tomar muita vaia contra a Colômbia, e o Dunga finalmente será demitido!

Canhoto disse...

Não há nada de desproporcional na comparação, se não ela simplesmente não seria uma comparação, ou pelo menos não apresentaria nenhuma novidade. Tenho bastantes dúvidas quanto ao fato de um "clássico" da terra da bota superar um jogo desse da série B.

A questão é: nem tanto ao mar, nem tanto ao céu.

James M. Barrie disse...

[Porra, o Bony falou que ia apagar os comentários zuados!]

Cês também tão adotando aquela postura ufanista e falando merda. Igor querer insinuar que um clássico de um campeonato europeu possa ser mais chato que Avaí x Vila Nova é coisa de quem fala que devemos exaltar a "cultura nacional".

Claro, os campeonatos italiano e inglês, os que mais valem a pena no momento, também têm jogos absolutamente enfadonhos, impossíveis de se assistir. É irônico: no Brasil, nivelamento e igualdade. Na Europa, um puta abismo entre os times de primeiro e de segundo escalão.
Mas não dá pra negar que é bem mais revigorante ver, em jogos desses campeonatos, lampejos de Kaká, Gaúcho, Seedorf, Ibrahimovic, Cristiano Ronaldo, Lampard, até do Robinho... e apreciar a técnicos como Felipão e Mourinho...

do que ver lampejos de Keirrison, Marquinhos, Willians, Hernanes (que não joga nada faz um tempo) e Guilherme (outro que caiu de produção).

E sabia que alguém ia soltar essa! Hahaha
Nada tem a ver o fato de o Fluminense estar pelejando pra escapar do rebaixamento.
Tanto que eu já falava mal do campeonato desde a época da Libertadores. Desde aqueles posts no meu fotolog no início do ano.
Aliás, desde o ano passado, como comprova esse texto:
http://jardimsuspenso.blogspot.com/2007/09/o-dia-em-que-um-coelho-derrubou-foca.html

Falar que a aletoriedade dos resultados e o fato de que há quatro times efetivamente brigando pelo título comprova o equilíbrio e traz emoção ao campeonato é falacioso.
Afinal, essas são as conseqüências de o campeonato estar nivelado por baixo. Em termos práticos, é um pouco melhor que o ano passado, quando o nivelamento também era por baixo, mas o São Paulo se destacava - com um futebol escroto.
Mas, olhando mais de perto, ano passado houve mais momento interessantes no campeonato. Santos, Cruzeiro, Botafogo, Flamengo e Fluminense chegaram a apresentar um futebol interessante, bem mais interessante que o apresentado esse ano. (Não por acaso, Cruzeiro, Botafogo e Flamengo estão entre os times que, durante o campeonato desse ano, apresentaram um bom futebol. Mas nem em seus melhores momentos foram tão bem quanto ano passado).

Melhores jogos do ano: Fluminense x Arsenal, Fluminense x São Paulo, e todas as finais entre Botafogo e Flamengo no Carioca.

Não por acaso, jogos de times cariocas, e ainda por cima no início do ano, quando ainda tinham vigor, sem ter perdido o fôlego devido a maus planejamentos.

Ia começar a falar como esse futebol medíocre influencia a seleção brasileira, mas aí vai que ela excepcionalmente joga bem de novo e dá uma sova na Colômbia, só pra calar a minha boca...

James M. Barrie disse...

Ah, sim, se tomarmos só o tempo normal, Fluminense x LDU também foi um puta jogo.

Certamente virão comentários falando "aí, viu, o Gabriel é mó parcial, fala que os melhores jogos do ano foram do Fluminense..."

Canhoto disse...

Primeiramente, não tenho nada com o Brasil, não sou patriota, só acho que essa babação de ovo com o que tem lá fora é exagerada, pois aqui o produto é de alguma qualidade, comparativamente falando.

Como disse, a síntese do texto é: nem é tão bom, nem é tão ruim.

A questão da comparação entre jogos é simplesmente opinativa.

ps: Tioria do indefinimento deu as caras no Maraca hoje. Eu quase acertei!

Anônimo disse...

Bony, seu ditador, pára de ficar apagando comentários que não te agradam!

Essa coisa de hierarquia, de concentração de poder, não tá com nada! A parada é o anarquismo!

Rodrigo Lois disse...

Na minha opinião, mesmo o campeonato sendo nivelado rigorosamente por baixo, é a melhor edição dos últimos anos. O ano de 2007, por exemplo, foi um saco, principalmente depois da queda de rendimento do Botafogo, que apresentava um futebol mais vistoso. O São Paulo ganhou apresentou o futebol mais merda que eu tinha visto de um campeão.

Em 2008, tanto na parte de cima quanto na debaixo, a disputa está emocionante. Já nos campeonatos internacionais, a disputa fica entre 3, 4 equipes. O resto é um bando que navega no marasmo.

Mas emoção não significa qualidade, essa é a principal questão.
No começo de 2008, despontavam Fla, Flu, Cruzeiro e Palmeiras. Agora, não temos nenhuma equipe que cative os olhos, tudo foi pura enganação. E ainda existem técnicos, como Dunga, Muricy, Celso, Geninho e Mário Sérgio, que vem aplicando o pior do futebol pragmático e quadrado. Não diria que estão "a la européia", só se for o estilo dos anos 90, porque atualmente, as principais seleções e clubes vem adotando cada vez mais um futebol ofensivo, vide Espanha, Argentina e Holanda. Só faltam à elas o brilho brasileiro ( Na Argentina, nem tanto).

Também se fez aqui uma comparação entre jogadores que atuam no Brasil e lá fora. Pela questão financeira dos clubes e do mundo, os grandes nomes estão lá fora. Mas isso não significa que todos são melhores que os que jogam por aqui. Ou alguém acha que o Jô é melhor do que o Nilmar? O Josué é melhor do que o Diguinho?

O problema é que um clássico como Inter x Milan tem no momento melhores jogadores do que Palmeiras e São Paulo, ou Vasco x Flamengo, por exemplo. É fato. Não é pela-saquismo. Isso falando de jogos-chaves. Em outras partidas normais, tanto lá fora quanto aqui, o nível está bem baixo. É um fenômeno mundial do futebol. Enquanto que aqui o problema é a falta de bons jogadores, que são vendidos cada vez mais cedo, lá fora a questão é a concentração deles em poucos times.

Etchatz disse...

Realmente devemos diferenciar o campeonato mais disputado em relação ao melhor campeonato tecnicamente.

Acho o campeonato inglês o melhor da atualidade. Possui 4 times grandes que brigam com boas chances na champions league e no campeonato nacional, o que não há em qulauqer outro país europeu. Apesar de reconhecer que Liverpool e Arsenal estão abaixo do Manchester U. e o Chelsea em função dos elencos, motivo que tem restringido nas últimas temporadas a briga pela premier legue entre os dois últimos.

Os jogos na Inglaterra são extremamente rápidos, dinâmicos, muito em função dos gramados menores (comparação que pode ser traçada com o futsal) e de boa qualidade (facilitando os passes e chutes, principalmente, de longe).

Dá gosto ver jogos tão disputados, lá e cá, com participação de pelo menos 1 dos 4 ou mesmo deles na champions.

O campeonato espanhol e o italiano possuem grandes times mas os jogos do campeonato nacional não são tão empolgantes pelo menos na quantidade dos ingleses. Vi jogos horrosos do Milan, como o 2x1 na Reggina, com pato (ainda verde), kaká, ronaldinho e shevchenko. Não acho que a badalação de cada campeonato tenha direta influência no desempenho das seleções. A Inglaterra vive da Copa que Ganhou em casa, numa decisão polêmica. Alemanha e Itália sempre chegam com sua tradição e futebol pouco vistoso.

Quanto ao Brasil, temos realmente o campeonato mais indefinido da era dos pontos corridos, temos jogos brigados, emocionantes, mas realmente falta qualidade, que vejo um pouco mais no Palmeiras. O Inter poderia estar brigando se tivesse se acertado antes, possui jogadores acima da média do que vemos por aqui. O Cruzeiro têm alguns lampejos de bom futebol. E como ninguém se sobressai, times como o Grêmio e o São Paulo apresentam a tão falada regularidade que lhes garantem minimamente vagas na libertadores.