17 de out. de 2008

Murphy bem que avisou

Prefácio: Esse texto teve a sua versão original modificada. Por motivos de segurança, profissionais, familiares e para tentar dar mais credibilidade ao “Ecos do Maraca” ( se é que ele ainda não tem), foi retirada parte da passionalidade na qual as palavras estavam mergulhadas, principalmente porque foram escritas algumas horas depois do fatidico episódio. Além disso, a aplicação da racionalidade, em muitas vezes, serve para esconder ou amenizar feridas emocionais, tão profundas e reveladoras, como a aberta na noite de ontem. Como vascaíno apaixonado por futebol, ainda me restam poucas alegrias. Vamos em frente.

A gente veste a camisa, enfrenta o Metrô lotado, finge que não vê o Ricardo Teixeira ficando mais podre de rico, se ilude com a partida contra a Venezuela, tudo para manter o sonho de ser mais feliz por alguns instantes. Afinal de contas, o futebol é o ópio do povo. Porém, mais uma vez, a seleção brasileira de futebol aprontou uma das suas. Depois do jogo, as fichas caem: " Nada está tão ruim que não possa piorar." e "Se alguma coisa pode dar errado, dará. E dará errado da pior maneira, no pior momento e de modo que cause o maior dano possível".


O Brasil repetiu a mesma atuação do que contra a Bolívia (talvez pior) e novamente deixou o carioca irado. Quem enfrentou a fila nas Saraivas, nas Laranjeiras e nas bilheterias do Maracanã se arrependeu amargamente. Até o cachorro-quente vendido no estádio ficou com gosto de jiló com aspargo. O Brasil criou no máximo três razoáveis oportunidades de gol, e olhe lá. Foi previsível. Uma atuação pífia, horrorosa, ridícula, tenebrosa, (sem)vergonho(sa), lamentável, da maioria dos jogadores, exceto Júlio César, Lúcio e Juan.

A Colômbia merecia ter vencido o jogo. Foi mais incisiva, ativa e empolgante. O problema é que eles são muito ruins. Muito mesmo. Não comentarei os lances da partida, pois estou tentando apagá-la da minha memória. Para sempre.

Não se faz aqui uma super campanha anti-Dunga ou algo parecido, por mais tentador que isso possa ser. Não sou eu quem vou assumir o cargo, então não importa muito quem vá a ser. A questão é que ele não tem nem experiência e nem qualidade para comandar a Seleção. Sua leitura de jogo não existe. O time não possui uma organização tática. Para Dunga, sobra no máximo uma função de auxiliar de motivação no intervalo.


Primeiro, o ataque: A Colômbia não jogou na retranca, muito pelo contrário, sua marcação estava adiantada. O que ela fez foi reduzir o espaço entre a defesa e o meio-de-campo, criando assim um bloco de oito jogadores. Nessa situação, o ideal é abrir bem o jogo pelas pontas, quase nas linhas laterais, aproveitar a "Linha Burra" dos quatro últimos colombianos, enfiando as bolas nas costas (ui!) do adversário, ou trocar passes rápidos pelo meio, para que o sólido se desfaça. Mas nenhuma dessas opções estava no cardápio brasileiro. Os laterais não chegaram até a linha de fundo, o meio-de-campo andava, Kaká e Robinho não jogaram nada e Jô não se achou em campo. Não agrada, nunca agradou. A lista de possíveis substitutos é gigante.


O Triângulo das Bermudas (Elano, Josué e Gilberto Silva) foi mais burocrático do que processo de votação de lei no plenário. Aliás, o caminho sombrio para o empate tosco já estava trilhado, nós é que demoramos para perceber: Elano era o cobrador oficial de faltas. Esse último, colocado em campo para ser um meia, ou até uma válvula de escape pela direita, não foi bem. Com Dunga, a Seleção Brasileira não sabe se impor, só joga no contra-ataque.


Agora falando de defesa: O Brasil não pressionou a Colômbia. A Seleção só marcou meio-campo. Se acovardou perante os nada perigosos colombianos. Enfim, se portou como pequena, não apertou a saída de bola, deixou o adversário trocar passes tranqüilamente, como se estivesse no aquecimento.

O problema, portanto, vai do faraó ao escravo maneta que é convocado para construir a pirâmide. O cenário começou a ser montado pela CBF, com a babaquice de premiar Robinho e Kaká (não discute-se a premiação em si). Isso tira o foco do jogador. Depois veio Dunga. Escalou mal, treinou pior ainda, foi apático à beira do campo e não conseguiu corrigir as falhas do time. Além disso, ele não consegue aproveitar a ofensividade característica de Kléber (que fase!) e Maicon. Com isso já preparado, só faltava a cereja no topo. Os atletas não mostraram empenho, criatividade e principalmente qualidade. A movimentação necessária não aconteceu. Alguns deles pareceram perdidos, desacreditados de seu próprio potencial. Cansaço? Então pede pra sair! Pede pra sair! Pede pra sair!!


Nem mesmo Kaká, que muitos dizem saber muito bem “ler o jogo”, ficou perdido, não buscou o jogo pelo meio, atuou mais como um atacante. Depois da partida, foi buscar explicações não sei aonde.


Não adianta reclamar da torcida. Ouviu, Anderson?? Ninguém aplaude um espetáculo de “penta” categoria. Só resta ao torcedor vaiar. Vaias essas que, cada vez mais rápido, se transformam em bombas-relógio, capazes de serem detonadas a qualquer momento. Não me recordo qual foi o cabeça-de-bagre que soltou a seguinte pérola: “O que importa é a tabela de classificação”. Vai pensando assim, vai. Pois é. Pelo jeito, o pragmatismo e a mediocridade reinam soberanos. Rei e Rainha, de mãos dadas, levando o futebol brasileiro para um buraco-negro.

O pior, para quem tanto se vangloriava de ter a melhor Seleção do mundo, é constatar que não somos mais isso. Longe disso. Ganhamos a Copa América porque o Robinho jogou muito e porque aplicamos belos contra-ataques na Argentina. Desde o desastre de 2006, o Brasil se distanciou do trono de melhor seleção. Podemos até ter ótimos jogadores, mas existem ao mesmo tempo problemas simples e complexos que vem desde a Copa atrapalhando a construção de uma equipe de qualidade. Falta dedicação, falta qualidade, tempo, dinheiro, alegria, identificação, esperança, arte, raça, transparência, falta tudo. Menos decepções. Para estas, sempre haverá espaço, não é?


Mais Seleção, graças a Deus, só ano que vem.

5 comentários:

warley.morbeck disse...

Difícil saber quem está pior de técnico. Brasil ou Flamengo.

Warley Morbeck
http://flamengoeternamente.blogspot.com
http://eternabola.blogspot.com

warley.morbeck disse...

Opa. Já coloquei seu link no Eterna Bola.

Valeu

Warley Morbeck
http://flamengoeternamente.blogspot.com
http://eternabola.blogspot.com

Saulo disse...

Primeiramente, muito bom o blog.
Sobre a seleção brasileira. Continuam jogando mal, péssimo, melancólico e se continuar assim, é capaz de não ir para a Copa do Mundo. É preciso fazer alguma coisa logo e já. Assim não dá.

Felipe Schmidt disse...

A gente tem q ver o lado bom. Pelo menos, agora, provavelmente o Dunga sai e a seleção vai ter um técnico q entenda minimamente o que se passa em campo.

Tudo bem, o problema não é só esse - o Brasil parece estar passando por uma entressafra - mas ainda assim é mal convocado e mal treinado.

A equipe só joga bem se o time adversário tiver espaços. Caso precise criá-los, o que vemos é uma seleção acéfala, sem jogadas, sem planejamento.

James M. Barrie disse...

Não sei se ainda vai surtir efeito tentar iniciar algum tipo de debate por aqui, já que o post não é mais tão recente. Entretanto, não creio ser de muita serventia criar outro post acerca do assunto - leia-se: mediocridade do futebol brasileiro -, uma vez que já há dois textos recentes sobre o tema.

Então, as considerações serão tecidas por aqui mesmo.

1. Leiam a coluna do Fernando Calazans (em particular a de hoje, domingo, 19 de outubro). Eu sei, pode ser chato ver um velho reclamar de como "o futebol já não é mais como antigamente", mas ele obviamente tem um fundo de razão.

2. Uma chatice óbvia, que há de ser repetida, porque não deixa de ter razão, é o quanto esse "futebol globalizado", ou o que seja, aos poucos tira a magia da coisa.

3. Vejamos: o papel da mídia no futebol ganha mais e mais relevância - saindo da esfera do registro da informação para a esfera da análise da informação, e daí para a interferência na informação. (Em dia de título do Brasil no futsal, vale destacar a declaração do Lenísio, que disse que "esse título também é de vocês", referindo-se ao SporTV, que teve papel fundamental na popularização do esporte no Brasil, no seu ganho de importância na mídia e, conseqüentemente, seu maior alcance numa esfera até mundial).
Cabe o questionamento: até que ponto esse tipo de interferência é saudável? No caso citado, não há dúvidas de que foi uma interferência positiva.
Mas há de se atentar para os possíveis malefícios desse tipo de postura. A se destacar, principalmente, todo o clima publicitário que se cria, toda espetacularização do que é banal - o que vai desde as narrações exageradamente empolgadas do Galvão Bueno à cobertura "big-brotheriana" feita na Copa de 2006, fomentando-se o clima de oba-oba que foi um dos fatores primordiais para o fracasso naquele ano.

4. A mídia faz, no futebol, a mesma coisa que faz acerca de todos os outros assuntos: assim como se está sempre procurando "a grande salvação do rock", assim como se está sempre atrás de uma nova celebridade de 15 minutos (eu sei, ninguém agüenta mais esse papinho do Andy Warhol, mas o cara tava certo, cacete), tenta-se descobrir, no futebol, sempre um novo craque.
Nesse processo, acabam sendo celebrados (celebrizados) jogadores que, apesar de terem algum potencial, não são tão geniais quanto se faz parecer. A constante pressão, o marketing interminável, o deslumbramento com o glamour, tudo isso contribui para a derrocada prematura de bons jogadores, que acabam ficando sendo apenas craques em potência. Fica só a possibilidade.
Um caso pequeno, não tão recente, sempre me pareceu emblemático.
Hás uns dois anos, surgiu no Fluminense o tal do Lenny, que demonstrava alguma habilidade com a pelota. Num país profícuo como o Brasil, nada a ser exaltado com tanto alarde. Entretanto, tendo-se em vista essa constante procura da mídia por novos valores a serem explorados, ele começou a ser visto com um interesse exagerado.
Exagero esse explicitado na narração absurdamente fora de proporção de Luís Roberto, após o garoto fazer um belo gol contra o Cruzeiro, na Copa do Brasil: "Um garoto que é tratado como uma jóia pelos torcedores do Fluminense e que aos poucos vai encantando todo o Brasil!!".
Logo após esse gol, Lenny sumiu. Ressurgiu recentemente no Palmeiras, como reserva do reserva, entrando vez em quando sem fazer muita coisa.

Em uma escala muito maior, ocorreu isso, por exemplo, com Alexandre Pato. Fez um grande jogo contra o Palmeiras pelo Inter, no mundial levou a bola com o ombro, e pronto: era o novo grande craque, a maior esperança do futebol brasileiro, tudo isso quando o muleque tinha, sei lá, 17 anos. Agora, um ano e meio depois, ele está no Milan, sim, com um marketing tremendo, uma publicidade que parece despropositada em virtude do pouco futebol demonstrado ultimamente, tanto no Milan quanto na seleção. Tornou-se claramente mascarado, acha que joga muito, que já é craque; quando, na realidade, ainda tem um caminho bastante grande a percorrer.
E todos os grandes craques do futebol brasileiro nos últimos anos podem ser submetidos a esse tipo de análise. Creio que o último jogador que fez, de fato, jus a esse tipo de publicidade foi o Ronaldo Fenômeno, que jogou uma fenomenal Copa de 2002. Aliás, a Copa de 2002 foi a última em que essa publicidade exagerada foi invertida: Ronaldo era desacreditado, havia grande desconfiança em relação ao que apresentaria, muita cautela no marketing que se fazia dele. Rivaldo, outro destaque daquele ano, é outro que foi (e é) extremamente subestimado pela mídia. Craque indiscutível, tão importante quanto Ronaldo para a conquista do penta, raramente é reconhecido ou lembrado.

Desde então, tivemos craques que acabaram ficando um pouco aquém da publicidade que se fez deles. Ronaldinho Gaúcho, claro, é um estupendo jogador, dos melhores que vi jogar. E a publicidade toda foi justificada pelas suas grandes atuações no Barcelona ali por 2005, 2006. Mas ele atingiu o topo e, ao sofrer com a pressão do marketing e da mídia, entrou em franca decadência. Desde a má atuação de 2006, quando esperava-se que ele fosse o grande nome da Copa, ele não consegue retomar seu grande futebol. De craque em potencial na Copa de 2002, tornou-se uma decepção a partir de 2006 (e acaba que, em retrospecto, teve uma atuação muito melhor na primeira copa que na segunda). Atualmente, apesar de esporádicos lampejos (como na partida de hoje), vive mais do marketing. Sua contratação pelo Milan, aliás, foi muito mais uma jogada de marketing, para dar um retorno financeiro direto, do que propriamente por um fator técnico, para conquistar resultados em campo.

Kaká também atingiu o topo, e é a grande esperança atualmente. Ainda que esteja abaixo do ano passado, o pico de sua carreira, espera-se que seja o grande destaque brasileiro na Copa de 2010, que comande o time rumo ao hexa. É um dos poucos "pontos de resistência", um dos poucos que surge com um futebol que corresponde à publicidade feita, colocando em segundo plano o fato de ser um modelo da Armani (ao contrário do que ocorre com Beckham, por exemplo).

Robinho, entretanto, há algum tempo vem inconstante, e a essa altura podemos dizer que ele não se firmou como o grande craque que esperávamos ver quando ele surgiu no Santos. É inegável que trata-se de um belíssimo jogador, com habilidade ímpar - mas acaba-se tendo uma visão inferiorizante, uma certa impressão de decepção, justamente pelo alarde gigantesco feito em cima dele. Alarde esse que certamente foi um dos fatores determinante para que essa "não-concretização" de seu talento.

5. Ou seja: a publicidade feita pela mídia cria uma expectativa que inevitavelmente será frustrada, pois é essa expectativa mesma que causa a "deterioração parcial", digamos assim, do talento do jogador.

Essas considerações ficam registradas aqui.
Ficaram maiores do que eu esperava, então é provável que transforme-as em texto em breve.
Mas, por enquanto, ficam os comentários desorganizados e desiludidos acerca do futebol brasileiro atual.