Prefácio: Esse texto teve a sua versão original modificada. Por motivos de segurança, profissionais, familiares e para tentar dar mais credibilidade ao “Ecos do Maraca” ( se é que ele ainda não tem), foi retirada parte da passionalidade na qual as palavras estavam mergulhadas, principalmente porque foram escritas algumas horas depois do fatidico episódio. Além disso, a aplicação da racionalidade, em muitas vezes, serve para esconder ou amenizar feridas emocionais, tão profundas e reveladoras, como a aberta na noite de ontem. Como vascaíno apaixonado por futebol, ainda me restam poucas alegrias. Vamos em frente.
A gente veste a camisa, enfrenta o Metrô lotado, finge que não vê o Ricardo Teixeira ficando mais podre de rico, se ilude com a partida contra a Venezuela, tudo para manter o sonho de ser mais feliz por alguns instantes. Afinal de contas, o futebol é o ópio do povo. Porém, mais uma vez, a seleção brasileira de futebol aprontou uma das suas. Depois do jogo, as fichas caem: " Nada está tão ruim que não possa piorar." e "Se alguma coisa pode dar errado, dará. E dará errado da pior maneira, no pior momento e de modo que cause o maior dano possível".

O Brasil repetiu a mesma atuação do que contra a Bolívia (talvez pior) e novamente deixou o carioca irado. Quem enfrentou a fila nas Saraivas, nas Laranjeiras e nas bilheterias do Maracanã se arrependeu amargamente. Até o cachorro-quente vendido no estádio ficou com gosto de jiló com aspargo. O Brasil criou no máximo três razoáveis oportunidades de gol, e olhe lá. Foi previsível. Uma atuação pífia, horrorosa, ridícula, tenebrosa, (sem)vergonho(sa), lamentável, da maioria dos jogadores, exceto Júlio César, Lúcio e Juan.

A Colômbia merecia ter vencido o jogo. Foi mais incisiva, ativa e empolgante. O problema é que eles são muito ruins. Muito mesmo. Não comentarei os lances da partida, pois estou tentando apagá-la da minha memória. Para sempre.
Não se faz aqui uma super campanha anti-Dunga ou algo parecido, por mais tentador que isso possa ser. Não sou eu quem vou assumir o cargo, então não importa muito quem vá a ser. A questão é que ele não tem nem experiência e nem qualidade para comandar a Seleção. Sua leitura de jogo não existe. O time não possui uma organização tática. Para Dunga, sobra no máximo uma função de auxiliar de motivação no intervalo.

Primeiro, o ataque: A Colômbia não jogou na retranca, muito pelo contrário, sua marcação estava adiantada. O que ela fez foi reduzir o espaço entre a defesa e o meio-de-campo, criando assim um bloco de oito jogadores. Nessa situação, o ideal é abrir bem o jogo pelas pontas, quase nas linhas laterais, aproveitar a "Linha Burra" dos quatro últimos colombianos, enfiando as bolas nas costas (ui!) do adversário, ou trocar passes rápidos pelo meio, para que o sólido se desfaça. Mas nenhuma dessas opções estava no cardápio brasileiro. Os laterais não chegaram até a linha de fundo, o meio-de-campo andava, Kaká e Robinho não jogaram nada e Jô não se achou em campo. Não agrada, nunca agradou. A lista de possíveis substitutos é gigante.

O Triângulo das Bermudas (Elano, Josué e Gilberto Silva) foi mais burocrático do que processo de votação de lei no plenário. Aliás, o caminho sombrio para o empate tosco já estava trilhado, nós é que demoramos para perceber: Elano era o cobrador oficial de faltas. Esse último, colocado em campo para ser um meia, ou até uma válvula de escape pela direita, não foi bem. Com Dunga, a Seleção Brasileira não sabe se impor, só joga no contra-ataque.

Agora falando de defesa: O Brasil não pressionou a Colômbia. A Seleção só marcou meio-campo. Se acovardou perante os nada perigosos colombianos. Enfim, se portou como pequena, não apertou a saída de bola, deixou o adversário trocar passes tranqüilamente, como se estivesse no aquecimento.
O problema, portanto, vai do faraó ao escravo maneta que é convocado para construir a pirâmide. O cenário começou a ser montado pela CBF, com a babaquice de premiar Robinho e Kaká (não discute-se a premiação em si). Isso tira o foco do jogador. Depois veio Dunga. Escalou mal, treinou pior ainda, foi apático à beira do campo e não conseguiu corrigir as falhas do time. Além disso, ele não consegue aproveitar a ofensividade característica de Kléber (que fase!) e Maicon. Com isso já preparado, só faltava a cereja no topo. Os atletas não mostraram empenho, criatividade e principalmente qualidade. A movimentação necessária não aconteceu. Alguns deles pareceram perdidos, desacreditados de seu próprio potencial. Cansaço? Então pede pra sair! Pede pra sair! Pede pra sair!!

Nem mesmo Kaká, que muitos dizem saber muito bem “ler o jogo”, ficou perdido, não buscou o jogo pelo meio, atuou mais como um atacante. Depois da partida, foi buscar explicações não sei aonde.

Não adianta reclamar da torcida. Ouviu, Anderson?? Ninguém aplaude um espetáculo de “penta” categoria. Só resta ao torcedor vaiar. Vaias essas que, cada vez mais rápido, se transformam em bombas-relógio, capazes de serem detonadas a qualquer momento. Não me recordo qual foi o cabeça-de-bagre que soltou a seguinte pérola: “O que importa é a tabela de classificação”. Vai pensando assim, vai. Pois é. Pelo jeito, o pragmatismo e a mediocridade reinam soberanos. Rei e Rainha, de mãos dadas, levando o futebol brasileiro para um buraco-negro.
O pior, para quem tanto se vangloriava de ter a melhor Seleção do mundo, é constatar que não somos mais isso. Longe disso. Ganhamos a Copa América porque o Robinho jogou muito e porque aplicamos belos contra-ataques na Argentina. Desde o desastre de 2006, o Brasil se distanciou do trono de melhor seleção. Podemos até ter ótimos jogadores, mas existem ao mesmo tempo problemas simples e complexos que vem desde a Copa atrapalhando a construção de uma equipe de qualidade. Falta dedicação, falta qualidade, tempo, dinheiro, alegria, identificação, esperança, arte, raça, transparência, falta tudo. Menos decepções. Para estas, sempre haverá espaço, não é?

Mais Seleção, graças a Deus, só ano que vem.