O coração, mesmo ferido...
O inexorável e a dureza do mundo...
Eu acredito e quem acredita sempre...
Quem espera sempre...
O coração.
Guerrón dispara no final do segundo tempo da prorrogação
Ninguém espera o imponderável: Federer perde pra Nadal
Pior para história e para o futebol
E pro coração.
A garganta seca
As lágrimas não secam
E o coração...
Trancos e barrancos
Jovens queimam na fogueira
- Fogueira das vaidades -
- Vamos brincar no Brasileirão.
Mas estamos perdendo as peças:
Thiagos fazem falta
Quebra-cabeças
Fundem a cuca
Fodem o cuca
E não se completam.
Tudo é parecido
Nivelado
Lá de cima ou aqui de baixo,
Tudo parece tão igual...
E, no meio disso tudo,
O coração...
O coração...
O co-ra-ção...
(eu ganhei do São Paulo e do Boca)
O coração ainda pulsa.
Dia 21 de maio. Fluminense e São Paulo protagonizam, pelas quartas-de-final da Libertadores, um dos melhores jogos do ano. Numa partida épica, o Flu vence por 3x1, com dois gols de Washington.
Dois meses e meio depois, as duas equipes se encontram novamente, pela 18ª rodada do Brasileirão. A situação do tricolor (preciso lembrar que tricolor só há um?) é quase diametralmente oposta. Desmonte do elenco, falta de peças de reposição, crises financeiras e políticas, insatisfação da torcida... o Fluminense parecia ir morrendo aos poucos. Antes do jogo desta quarta-feira, no Maracanã, os torcedores promoveram um enterro simbólico.
Mas o coração ainda pulsava.
O jogo, em si mesmo, foi morno. São Paulo e Flu pouco produziram. O primeiro tempo teve poucas boas jogadas – a se destacar, apenas um bom lance, pelo lado do tricolor, que começou com um passe de Tartá para Somália, que driblou Joílson e cruzou para o meio da área, onde Washington aguardava, livre. Mas o Coração Valente chutou por cima do gol.
As (poucas) chances do SPFC foram, em sua maioria, repelidas por Roger.
No segundo tempo, o jogo ficou mais interessante. O São Paulo teve um bom momento no início, quando marcou seu gol, mas foi só.
Durante o resto da partida, o Flu foi mais consistente, chegando com perigo em boas jogadas de Tartá (que vem se firmando no time) e Conca (que, apesar das oscilações, ainda é o melhor meia do Brasil – jogar o que ele joga no time perdido do Fluminense não é pra qualquer um).
Durante o resto da partida, o Flu marcou três gols, que, ironicamente, formaram o mesmo placar do jogo da Libertadores.
Durante o resto da partida, como se já estivesse escrito, como numa irritante repetição da mesma música, Washington é o herói. Marca três vezes e dá a vitória ao Flu.

Como num espelho, parece que a mesma partida se repete. Uma no auge, outra no fundo do poço. É mesmo um espelho: tudo está invertido.

O Fluminense se olha no espelho, um espelho quebrado, e vê um time que vem sendo decepado pouco a pouco. O reflexo é mera sombra do que o time era. Ou, ainda, é o inverso: um time apático, que mal consegue encontrar forças pra lutar. É outro lado da moeda. Da mesma moeda.
E se Harvey Dent já nos provou que caos e ordem podem ser encontrados no mesmo rosto, o Fluminense precisa tirar daí forças para, de fato, ressuscitar, não apenas simbolicamente.
(O coração ainda pulsa).
Mas não se pode deixar essa recuperação ao sabor do acaso. Contratações estão sendo feitas, puxões de orelha foram dados... estamos escolhendo qual das duas caras vamos dar a tapa. Qual imagem que o espelho irá mostrar.
E não é só o Flu que é feito de altos e baixos, de espelhos quebrados, de duas caras: o campeonato brasileiro tem sido assim, oscilante. Um integrante do G4 perdeu para o penúltimo colocado. O Ipatinga já pregou peças nos líderes.
Parece que, no fim das contas, corações pulsantes batem descompassados, atravessamos espelhos diariamente e a cada rodada Harvey Dent joga sua moeda.

Cara... ou cara?